A mentira tem patas curtas
- pelegrincecilia
- 10 de mar. de 2022
- 5 min de leitura
Lc 17,5-10
Autoras: Cecília Pellegrini e Padre Magalhães
Logo cedo, dona Jaque arrumou a lancheira da filha: - Jaca, minha filha, anda logo.
A filha entra na sala bocejando: - Ara mãe, eu não quero ir para a escola hoje.
- Nada disso, faltar da escola só quando você estiver doente. Avisou dona Jaque.
Jaca começou a gemer: - Ai, ai, ai, minha barriga está doendo. Ai, ai, ai...
Cismada, a mãe perguntou: - Mas que coincidência, começou a doer assim, de repente?
- Veja, veja mamãe, to ficando verde de tanta dor.
- Mas você já é verde, Jaca.
- Ai, ai, mas é um verde escuro, de bolinhas vermelhas. Mãe, eu ouvi na TV que tá tendo um surto de jacapora. É jacapora, é jacapora.
A mãe pegou uma enorme seringa e falou: - Nesse caso filha, é melhor te dar uma vacina tríplice.
Num passe de mágica a filha revelou: - Num é que sumiu tudo! Até a dor de barriga.
- Filha, quantas vezes eu preciso lhe dizer que não se deve mentir.
- Mentir eu? Tá, tá, foi só um pouquinho.
- Filha, lembra da historinha do Jaquinóquio?
Nervosa a Jaca afirmou: - Lembro, lembro. Meu focinho cresceu mamãe?
- Não, mas nós, os jacarés, vivemos em média 50 anos. Se você viver a sua vida falando mentiras, logo, logo, ninguém mais vai acreditar em você.
- Mãe, mas você é tão exagerada! Ninguém mais vai acreditar em mim? Essa é boa!
- Acredite no que estou dizendo Jaca. Precisamos viver de tal modo que as pessoas acreditem em nós. Por isso, não se deve mentir. Deve-se falar sempre a verdade.
Depois começou a pentear a filha: - Agora você vai ficar bem arrumada, lancheira cheia de comida nutritiva e está prontinha para estudar muuuuuito.
Dona Jaque mostrou o delicioso peixe dentro da lancheira e beijou a filha - Tchau querida.
- Tchau mãe! Ela saiu de casa e foi andando bem devagar e olhava para a mãe e gritava: - Tchau mãe, pode entrar em casa.
Dona Jaque deu o último adeus e entrou dentro de sua casa: - Tchau filhinha.
A dana da filha, quando percebeu que a mãe não a estava vendo mais começou a diminuir o comprimento da saia, depois passou baton: - Mais quem disse que eu vou para a escola? Eu vou é me encontrar com uma galera maneira.
Ela se encontrou com o Jeca e a Jica: E aí Jaca!
- Jeca, Jica, fala sério, vocês demoraram, heim?
- Conseguiu enrolar a sua mãe? O Jeca perguntou zombando.
- Mas é claro né, mãe acredita em tudo. Ela até encheu a minha lancheira. Vejam só que peixão.
Jica lambeu os lábios: - Uau, um peixão. Podemos vender e comprar tudo em bala, pirulito, chiclete.
A Jaca lembrou: - Mas minha mãe diz que isso não tem vitamina. Que não podemos ficar comendo muito essas coisas e também estraga os dentes.
Jeca retrucou: - Mas como você é careta meu, sem essa de porcaria. Essas coisas agradam o estômago de qualquer filhote de jacaré.
- É Jaca, o Jeca tá certo. Todos gostam de pirulito, bala, chicletes, guloseimas. Então vamos nos esbaldar, quero me entupir de porcarias.
Eles caminharam um pouco e logo encontraram o senhor Juca gritando: - Olha o pirulito, enrolado no palito. Quem vai querer?
O Jeca se antecipou: - E aí seu Juca, quantas balas, pirulitos e chicletes dão pra trocar por esse peixão aqui, ó?
Jaca explicou: - A mamãe disse que é um salmão legítimo das águas profundas do oceano Atlântico.
O vendedor disse: - Ah, se a dona Jaque disse eu acredito. Ela sabe que você está fora da escola Jaca?
- Claro né! Afirmou a danadinha mentirosa.
O vendedor ainda orientou: - Mas, porque vocês não comem o peixe, ele tem vitaminas e essas coisas que eu vendo só tem açúcar.
Jica falou brava: - Ora, ora seu Juca, o senhor quer trocar ou não?
Ele respondeu: - Mas é claro que eu quero. Não sou bobo nem nada. Meu almoço está garantido.
Depois deu um saco enorme cheio de guloseimas, pegou o peixe e saiu gritando: - Olha o pirulito, enrolado no palito...
A galera ficou entusiasmada e a Jaca avisou: - Hum estou com uma fome. Vamos comer tudinho.
Os três comeram fartamente e Jaca falou de boca cheia: - Ta bom demais!
Jica pediu: - Calma, calma, eu também quero.
De repente a Jaca começou a ficar com dor de barriga: - Ai, ai, ai, minha barriga, minha barriga está doendo muuuuuito.
O Jeca nem ligou e disse: - Poxa, acabou todo o doce. Ei Jica vamos a casa daquela jacarezinha que conhecemos ontem?
A Jaca continuava a reclamar: - Eu estou com enjoo. Tá revirando tudo aqui dentro do meu estômago.
Jica gritou: - Vamos dar o fora Jeca, antes que a Jaca vomite na gente.
Jeca concordou: - Foi bom enquanto durou. Tchauzinho Jaca.
Chorando muito, a Jaca falou revoltada: - Ei, seus jacarezinhos da onça... Voltem aqui. Me ajudem... Ai, ai.
E foi andando e chamando: - Mãe, Mãezinha...
Dona Jaque de longe ouviu o chamado da filha e veio correndo: - O que foi filhinha? Você está branca!
- Ai, ai, ai, minha barriga está doendo muito.
- Ora, ora, será que o peixe que coloquei na lancheira estragou?
- Não mãezinha, eu é que estraguei todo o meu dia.
- Como assim?
A filha falou com vergonha, com dor e bem rápido: - Eu menti para a senhora, não fui à escola, troquei o peixe por um montão de porcarias, passei a tarde toda com aqueles dois jacarés, o Jeca e a Jica, que a senhora vive dizendo que eles são mentirosos, falsos, enganadores...
A mãe disse: - Primeiro tome esse remedinho que vai sarar logo.
- Obrigada mamãe.
- Mas Jaca, que tristeza minha filha. Quanta coisa errada você fez hoje. Se a mamãe fala, ensina é para o seu bem. O Jeca e a Jica pararam de estudar, ficam pelas ruas enganando as pessoas, mentem para todo mundo. Eles não são boas companhias porque não dão exemplos bons com as atitudes deles, entendeu?
- Sabe mamãe, você falava, falava e eu achava que você era careta e agora eu sei que você fala porque me ama.
- Lembre-se minha filha que a mentira tem pernas curtas.
- Mãe, a minha pata é curta, quer dizer que eu sou uma mentira?
- Não filha, mas se você escolher o caminho da enganação você irá afastar as pessoas que realmente te ama e vai conviver com pessoas enganadoras também, entendeu?
- Entendi mamãe e quero viver como você, o papai e a minha professora me ensinam. De agora em diante só vou confiar nas pessoas que merecem confiança.
- Tenha fé, minha filha. Se você agir certo, ficar no caminho do bem só encontrará pessoas boas e verdadeiras.
- Fé, o que quer dizer fé mãe?
- Fé é acreditar!
Jaca refletiu e disse: - Aprendi a lição: De agora em diante só vou acreditar em quem merece confiança.
- Assim é que se fala minha filhota!
- Mas agora mãezinha, você me dá um peixinho bem gostoso para eu comer?
- Essa minha filha... Vamos! Tchau crianças!
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