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A missão de Alegrina

Mc 2,13-17

Autora: Cecília Pellegrini


Na floresta vivam pai e filho, o Monstrengo e o Monstrinho, que fizeram um pedágio e a cada dia enriqueciam mais.

O Monstrengo falava alto para ser ouvido: - Eu sou um monstro. O terrível, o temível Monstrengo. Amigo do Lobo Mau, do Barba Azul, da Bruxa, Madrasta da Branca de Neve. Esse chão é meu e esse filho também é meu. Põe medo na garotada, filhão. Diga que você é mau.

O Monstrinho falou timidamente: - Eu sou mau.

Indignado o pai gritou: - O quê? Com esse ar de bonzinho? Endireite o corpo, emposte a voz, acredite: você é mau, muito mau. Vamos, diga: Eu sou mau!

Mais confiante, o filho engrossou a voz: -  Eu sou mau.

Agora satisfeito o Monstrengo elogiou: - Muito bem, muito bem. Esse é o meu filhão. O terrível monstro, dono desse pedaço de chão. Aqui ninguém passa não, a não ser que me dê muito dinheirão.

De repente chega uma pessoa para atravessar: - Senhor Monstro, dono desse pedaço de chão, preciso passar para visitar minha mãe.

- Qual a senha? Perguntou o Monstrengo.

A pessoa explicou e entregou o dinheiro: - Veja, eu trouxe o dinheiro para a travessia, mas por favor, não me peça para dizer a senha. 

O Monstro deu uma gargalhada e depois falou: - Eu adoro provocar esse povo do Reino da Alegria: são tão bonzinhos, amiguinhos... Detesto gente assim. Diga logo a senha. Você sabia que a sua mãe está muito velhinha e já não aguenta fazer a própria comida?

Com muito medo a pessoa explicou: - Eu sei, eu sei. Por isso estou indo visitá-la, para ajudá-la.

Monstrengo engrossou ainda mais sua voz: - Diga a senha. Diga as 3 palavras mais bonitas do mundo. Vai filhão mete medo...

E o filho engrossou a voz também, para deixar o pai satisfeito: - Diga a senha.

A pessoa falou baixinho e rápido: -  Tristeza, dor e maldades.

Irado, o monstro ordenou: - Mais alto!

Então a pessoa falou para ser ouvida: - Tristeza, dor e maldades.

O monstro disse satisfeito, rindo o tempo todo: - Dinheiro na minha caixa, tristeza, dor e maldades na sua caixola. Pode passar. Eita, pedaço de chão pra dá lucrão. Mais dinheiro, mais dinheiro. 

E assim, mais uma pessoa pagou e passou. O monstro pegou um binóculo e ficou alegre: - Vem vindo mais gente...

Era uma senhora trazendo um bebê nos braços.

O terrível Monstrengo perguntou: - Queres passar?

A pessoa respondeu: - Quero, quero muito. Minha filhinha está muito doente e disseram que há um médico deste lado da floresta.

O malvado confirmou: - E há mesmo. Um médico que cura tudo e todos.

A mulher implorou: - Senhor Monstrengo e pequeno Monstrinho, me deixem passar, por favor.

Dando uma tremenda gargalhada o Monstrengo zombou da pobre senhora: - Eu não disse que nesse Reino da Alegria todos são mesmo uns bobões? 

Senhor Monstrengo, pequeno Monstrinho... 

Pare com isso, com esta voz melosa. Diga a senha e passe o dinheiro.

Humildemente a pessoa explicou: - Me entristece muito dizer a senha, mas eu até digo: tristeza dor e maldades, mas dinheiro...

E o Monstrengo confirmou: - Sim, dinheiro, bufunfa, money, real, dólar, euro...

Eis que surge a revelação da pobre pessoa: - Dinheiro eu não tenho.

- Dinheiro não tem? Meia volta e dane-se o seu neném. Respondeu o malvadão.

Ela começou a chorar e a fazê-lo entender a situação: -  Mas minha filhinha está muito doente.

Mas de nada adiantou: - E eu com isso? Vá embora, se manda. Dinheiro não tem, se manda, meu bem.

Enquanto a pobre senhora retornava chorando, o monstro gargalhava e se gabava: - Eu sou muito mau! Repita filhão.

E o filho repetia como um papagaio.

De repente o Monstro olhou pelo binóculo e viu uma multidão se aproximando:  Mas hoje é o meu dia de ganhar muito dinheiro, muito real. Veja só filhão, quanto bobão...

O povo começou a acenar para uma linda jovem que se aproximava. Era a Princesa Alegrina, muito querida por todos.

Ela cumprimentou a todos, mas continuou andando e foi até o monstro, deixando-os indignados por falar com o monstro.

Por outro lado, o Monstrengo não cansava de se gabar: - Ora, ora, como estou famoso, até a Princesa Alegrina veio implorar para passar pelo meu pedaço de chão. Monstrengo, você é realmente demais!

Alegrina o cumprimentou: - Bom dia, senhor Monstrengo.

E ele respondeu: - Um mau dia para você, Princesa Alegrina. Vai passando o dinheirão, pode ser jóias, cartão de crédito, vale transporte e vale refeição. Ah, e diga a senha também. Meu pedaço de chão é muito valioso, entendeu?

Com muito carinho ela disse: - Eu sempre ouvi falar do senhor, mas eu achava que era invenção do povo, mas agora vejo que é verdade. Quer dizer que o senhor cobra uma taxa para que as pessoas possam passar por aqui?

O povo começou a chamá-la: - Psiu ! Ei, Alegrina, venha aqui.

Sem entender, a Princesa foi até eles: -  O que foi amigos ?

Um aldeão foi o primeiro a perguntar: - Mas Princesa, como você, que é filha do nosso grande Mestre, pode estar aí, falando com esse Monstrengo ?

E todos afirmaram: - Ele é ruim!

Outra pessoa lembrou: - Ele cobra dinheiro de todos.

Mas Alegrina ensinou: - Mas é exatamente desse tipo de pessoas que precisamos nos aproximar. Levar a palavra do nosso Mestre: palavras de amor, de carinho, de perdão.

Com medo de perder o pedágio, o Monstro gritou: - Ei, Princesa Alegrina, quero  dinheiro. Quem tem, passa. Quem não tem, fica. Meu pedaço de chão vale milhão.

A Princesa foi dialogar com ele: - Mas o meu pai sempre diz que nunca viu ninguém dizer meu pedaço de vento, meu pedaço de céu, então não devemos ser donos da terra também. No reino da Alegria todos são felizes porque tudo é de todos. Nós plantamos todos juntos, colhemos todos juntos e repartimos.

Ao ouvir as palavras dela o Monstrengo teve uma ideia: - Mas que pai inteligente. Como não pensei nisso antes, eu posso cobrar pelo vento também, pelo céu... Vou ficar trilhardário!

Ela abraçou o Monstrengo e continuou a falar: - Meu amigo, veja o vento! É o ar em movimento. Ele é de todos. Veja a imensidão do céu. Ele é de todos também.

O monstro ficou meio tocado com as palavras de Alegrina e as pessoas foram se aproximando, demonstrando que também pensavam e agiam como ela.

Depois de refletir o Monstrengo confidenciou: - Sabe que eu nunca tinha pensado nisso! O que você acha filhão? Diga a ela.

E o Monstrinho que só repetia a mesma frase, engrossou a voz e disse: - Eu sou mau.

A Princesa pontuou: - Não amiguinho, você não é mau. Você aprendeu a ser mau. Ser bom é bem melhor, sabia?

Mas o pai explicou: - Pera lá, Alegrina. O meu tataravô era mau, meu bisavô também, meu avô e meu pai também. Agora eu sou mau e estou ensinando o meu filhão também...

Ela concluiu: - Aí está! Vocês nunca pararam para pensar. Você usa esse montão de dinheiro pra quê?

O monstro contou: - Pra nada, eu só junto, junto, junto. Tenho uma montanha de dinheiro.

-  E por que você não usa o dinheiro? A Princesa perguntou curiosa.

E ele explicou: - Porque aqui na floresta eu tenho de tudo: uma gruta confortável nas rochas, frutas, mel, água. Tudo, tudo.

Alegrina transmitiu mais um ensinamento recebido: - Meu pai diz que devemos repartir, ajudar a construir um mundo mais cheio de vida e alegria.

Com muita espontaneidade o Monstrinho abraça a Alegrina e ela abraça os dois.

O Monstrengo falou sobre a descoberta que fez: - Como abraço é gostoso. Venha cá, filhinho...

E pela primeira vez na vida ele deu um forte abraço no filho.

O Monstrinho sorriu de tanta felicidade e depois desabafou: - Ah, papai, é tão bom te abraçar também. Sempre via as pessoas abraçando e beijando seus filhinhos. Eu morria de vontade. Eu sempre quis ser igual a eles. Nunca me senti bem dizendo que eu era mau.

E uma nova revelação aparece: - Oh, filhinho... Vou te contar um segredo: Quando eu era pequeno, também me sentia assim como você, não queria ser mau. Mas, como disse a Alegrina, nunca parei para pensar e repetir o que os outros da minha família faziam era mais fácil. Aí eu fui ficando mau.

Alegrina lembrou: - E então Sr. Monstrengo e Monstrinho, o importante é saber que nunca é tarde para mudar.

O filho disse:-  Meu papai legal...

O pai não se conteve de tanta emoção e repetia: - Amoleci... Amoleci... Amoleci... Não estou mais com vontade de fazer ou ensinar maldades. Até estou com vontade de sorrir.

E todos começaram a cantar e a dançar: 

-  “Sorria, sorria, é tempo de sorrir, sorria.

Sorria para a vida, que a vida é alegria.

É tempo de sorrir, sorria.”

(autoria: Silvio Santos)

Após horas de união e cantoria Alegrina convidou: - Venham, venham todos. Sigam-me para o Reino da Alegria!

E sempre cantando, acompanharam a princesa e viveram felizes para sempre:

- “Sorria, sorria...”

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