A porta estreita
- pelegrincecilia
- 27 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 14 de out. de 2020
Lc 13,22-30
Autora: Cecília Pellegrini
A gata Gracinha tinha um caminho a percorrer e ficou muito feliz quando encontrou a cachorra Flofy: - Oi, você está indo pra aquela direção?
Flofy, mal-humorada, examinou a Gracinha de cima até embaixo e respondeu com má vontade, dando a entender que sim: - Hã, hã.
Gracinha ficou muito animada: - Que legal! Eu também vou! Que tal irmos juntas? É tão bom ter amigos na caminhada, não é?
Flofy pensou: - Detesto bicho Intrometido... Principalmente quando não é da minha estirpe, quero dizer, da minha raça pura.
Gracinha, sem perceber o desagrado da cachorra, continuou: - O meu nome é Gracinha e o seu?
A resposta foi pronunciada bem baixo, enquanto ela se arrumava, toda metida: - Flofy
- Hã? Não entendi ... revelou a gatinha.
Então a cachorra gritou: - Flo-fy!
E pensou: - Essa gata ainda é surda!
E ela foi logo avisando, com ar de superioridade: - Só que pra você sou dona Flofy.
A gatinha, na maior humildade, revelou: - Sabe, dona Flofy, eu estou tão feliz! Meu objetivo é ir pro céu, viver com o Rei Leão!
Flofy riu muito zombando: - Você? Ir para o céu? E viver com o Rei Leão? Tá brincando né?
Gracinha contou: - É a mais pura verdade. Eu me esforço todos os dias para conseguir entrar lá. Eu sigo os ensinamentos deixados pelo nosso Rei que é amar e servir.
- Como você é bobinha... Eu também acredito no grande Rei Leão que está no céu, mas você acha mesmo que chegará lá levando só isso? Ela falou e mostrou a sacolinha que a gata levava nos ombros.
A gata revelou: - Tenho o necessário para viver: água, comida e uma troca de roupa...
Muito espantada, a cachorra afirmou: - Não é a toa que você é assim... tão sem graça, sem glamour, sem finesse. Pois eu adoro minhas joias, minhas maquiagens, meu dinheiro, toda minha riqueza. Amo, amo, amo... Por falar nisso preciso comprar mais e mais. Dinheiro é o que não me falta.
E mostrando a bolsa lotada de dinheiro e cartões a cachorra parou nas inúmeras lojas que encontrava pelo caminho. Só que ela já trazia um saco com muitas coisas e ao comprar mais e mais, ela ficava tentando fazer entrar no saco que já estava lotado.
Um Coelhinho estava no caminho mancando, de pé no chão e muito triste.
Ao vê-lo a gatinha falou: - Oi Coelhinho, tudo bem contigo?
O Coelho respondeu mostrando sua pata: - Aqui tá doendo... ó!
- Nossa! Suas patinhas estão cheias de feridas... Mas é porque você é tão pequenino e a estrada está quente e cheia de pedregulhos. Senta aqui que eu vou cuidar de você...
A gata se agachou e começou a cuidar dos machucados do pobre bichinho.
Alheia a situação, Flofy ao ver uma vitrine gritou animada: - Que legal, chegou a nova coleção de calçados. A cor do momento é o vermelho. Uau! Lindão! Preciso ter!
Ao vê-la entrar na loja de calçados, Gracinha correu até ela: - Dona Flofy, por favor compre um calçado para aquele pobre coelhinho? Ele mal consegue caminhar porque as patinhas estão machucadas.
Mas, a insensível respondeu brava: - O quê? Gastar o meu rico dinheirinho com um coelhinho pobrezinho? Nem pensar!! Meu dinheiro é todo para mim, só pra mim. Tem muita coisa de que estou precisando ainda. Se vira lá com ele e me deixa em paz.
Gracinha volta até o coelhinho: - Amiguinho, como eu não tenho dinheiro para comprar um calçado pra você, fique com o meu, pois sou adulta e minha pele é mais resistente. Tó, vou ajudá-lo a colocar.
Quando a cachorra vê a gata tirando o próprio sapato para dar ao coelho, ela diz para a vendedora da loja: - Depois não sabe porque continua pobretona. Onde já se viu ficar ajudando essa bicharada carente!
O Coelhinho ficou muito agradecido: - Obrigado! Eu te encontrarei no céu!
Depois de se despedirem, ele deu um beijo na Gracinha e foi saltitando pelo caminho.
A cachorra se aproximou: - Ainda bem que aquele fedorento foi embora. Ai que nojo... Nossa, bateu uma fome... Vou ali me empanturrar de comida. Ora, ora, você não vem?
A gata respondeu: - Eu tenho um lanchinho aqui, quer um pedaço dona Flofy?
Indignada, a dona Flofy respondeu: - Claro que não, né! Olha bem pra mim... você acha que, com o meu pedigree, posso comer qualquer coisa? Dinheiro não me falta!
E tirando muitas cédulas da carteira a cachorra entrou em padarias, lanchonetes, docerias e comprou muita comida e socava tudo dentro do enorme saco já lotado.
Do outro lado da rua, Gracinha pegou um paninho embrulhado e ao ver animaizinhos com fome falou: - Vocês estão com fome, né bichinhos? O que tenho é pouco, mas vou repartir com vocês.
E foi tirando pedacinhos de seu pão partilhou com os bichinhos, que agradeciam e comiam rápido, tamanha a fome.
Flofy chegou trazendo nas mãos um delicioso pedaço de bolo e falou com a boca cheia de biscoitos: - Acredita que não tinha bolo de chocolate. Detesto de cenoura, eca! Ainda bem que comprei outras coisas para eu comer no caminho.
E jogou o bolo no chão, o qual, mesmo cheio de terra, foi devorado pelos animais famintos.
Gracinha ficou penalizada: - Dona Flofy, veja quantos bichinhos famintos, reparta um pouco da sua comida...
A cachorra achou uma ousadia e respondeu brava: - Já estou arrependida de estar no mesmo caminho que você sabia? Eu já não lhe disse que tudo é meu, só pra mim?
- É que a senhora poderia ajudar tanto... Argumentou a gata compadecida com os pobres.
Aí Flofy teve uma ideia: - Já sei! Posso pegar um deles pra levar meu saco que tá bem pesado.
A gata ficou muito feliz e perguntou: - Para trabalhar para a senhora? Que bom! Quanto a senhora irá pagar?
- Nada. Respondeu a dona egoísta.
Gracinha argumentou: - Hã? Mas é direito do trabalhador... Será em troca de comida, então?
A cachorra explicou: - Claro que não! Será pelo prazer em levar as coisas valiosíssimas de um animal como eu: chique, poderosa, rica...
A gatinha ficou revoltada: - Mas isso é injusto...
E Flofy deu o assunto por encerrado, visto que chegaram ao destino: - Chega de conversa! Nossa, até que enfim chegamos ao céu! Eita caminhada cansativa e irritante...
Ela viu uma pequena portinha no céu e ficou indignada e falando com deboche, procurou uma entrada maior: - Mas peraí, só tem essa “entradica” para o céu?
- Sim! A graça de entrar no céu é individual e cada um conquista a sua! Explicou a gatinha que tudo sabia.
Flofy gritou: - É muito pequena e estreita.
E Gracinha deu a solução: - Mas dá para passar. Doe suas coisas e aí a senhora conseguirá entrar.
A dona cachorra Flofy ficou pensativa, lembrando de toda a caminhada percorrida: - Caramba! Passei a vida juntando! Eu achei que para viver com o Rei no céu eu deveria estar cheia de riqueza!
E, mais uma vez, a gatinha explicou: - O Rei Leão ensinou que, além de acreditar Nele, precisamos fazer Sua vontade, que é amar e servir aos nossos irmãos. Essa é única riqueza que importa ao nosso Rei.
- Então é por isso que a porta é tão estreita? Concluiu Flofy.
- Sim, “entrar pela porta estreita” significa, fazer-se pequeno, simples, humilde, servidor, capaz de amar aos irmãos, entendeu? A gata explicou.
Flofy pensou, refletiu, ponderou e falou: - Nossa... sim, sim, acho que entendi! Tudo faz sentido agora. Além de entender, eu percebi que preciso mudar muito meu jeito de ser para conseguir passar por esta porta.
- Reconhecer o erro já é o começou. Querer mudar e se esforçar vai alterar toda a sua vida para melhor! Disse Gracinha.
E a cachorra, finalmente, concluiu: Sim, esse é o caminho que terei que percorrer para conseguir entrar no céu.
A gata se despediu e depois entrou no céu: - Tchau, dona Flofy. Eu espero vê-la no céu, em breve!
Com muita convicção Flofy prometeu: - Você verá! Tchau, Gracinha.
Flofy estava pensando nas mudanças de vida que faria, quando os animais famintos chegaram e ela contou a novidade: - Amiguinhos eu quero muito entrar no céu e para isso preciso mudar. Prometo que não vou me acomodar, vou me esforçar! Vou amar, partilhar, de-sa-pe-gar...
Ela abriu o enorme saco e ofereceu: - Quer um pedaço de bolo? Vejam aqui tem biscoitos, roupas, calçados...
E os animais fizeram fila e foram ganhando muitas doações, saindo agradecidos: - Obrigado, dona Flofy! Muito obrigado!
A cachorrinha sorriu e disse: - Eu é que agradeço! Já me sinto bem melhor e feliz!
E assim, Flofy viveu de forma diferente: amando, ajudando e partilhando com os irmãos, pois ela sabia que esse era o único jeito de conseguir entrar no céu.
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