A porta estreita
- pelegrincecilia
- 10 de mar. de 2021
- 5 min de leitura
Lc 13,22-30
Autora: Cecília Pellegrini
Cenário: Céu=> Um painel feito com um tecido azul, com nuvens de lã acrílica fixadas no tecido. No tecido do “céu” haverá uma abertura e a figura de uma porta pequena e estreita, que estará aberta.
Em toda largura do placo, ao fundo, haverá objetos expostos: roupas, calçados, joias, dinheiro, comida, celular, etc.
3 Personagens: Gatinha Gracinha, cachorrinha Flofy e um coelhinho. A gata estará bem simples, com uma sacolinha nos ombros e a cachorra estará sofisticada: roupa chique, salto alto, muitas joias, maquiagem exagerada, uma bolsa a tiracolo recheada de dinheiro e um enorme saco de tecido, lotado de coisas, que ela arrastará em cena o tempo todo. O coelhinho será interpretado por criança bem magra, usando roupas que simbolize pobreza.
[Gracinha e Flofy entram em cena e contracenam no canto esquerdo do palco].
GRACINHA [feliz]: - Oi, você está indo pra aquela direção? [aponta para o lado direito do palco]
FLOFY [mal humorada, examina a Gracinha de cima até embaixo e responde com má vontade]: - ahn, ahn [dando a entender que Sim].
GRACINHA: - Que legal! Eu também vou! Que tal irmos juntas? É tão bom ter amigos na caminhada, não é?
FLOFY [fala em off com a plateia]: - Detesto bicho intrometido... Principalmente quando não é da minha estirpe, quero dizer, da minha raça pura.
GRACINHA: - O meu nome é Gracinha e o seu?
FLOFY [Fala bem baixo, enquanto se arruma toda metida]: - Flofy
GRACINHA: - Ahn, não entendi...
FLOFY [grita o seu nome]: - Flo-fy [fala em off com a plateia] E ainda é surda [volta a falar com a gata] Só que pra você sou dona Flofy.
GRACINHA: - Sabe dona Flofy, eu estou tão feliz! Meu objetivo é ir pro céu, viver com o Rei Leão!
FLOFY [ri zombando]: - Você? Ir para o céu? E viver com o Rei Leão? Tá brincando né?
GRACINHA: - É a mais pura verdade. Eu me esforço todos os dias para conseguir entrar lá. Eu sigo os ensinamentos deixados pelo nosso Rei que é amar e servir.
FLOFY: - Como você é bobinha... Eu também acredito no grande Rei Leão que está no céu, mas você acha mesmo que chegará lá levando só isso? [mostra a sacolinha da gata].
GRACINHA: - Tenho o necessário para viver: água, comida e uma troca de roupa...
FLOFY [espantada]: - Não é a toa que você é assim... tão sem graça, sem glamour, sem finesse. Pois eu adoro minhas joias, minhas maquiagens, meu dinheiro, toda minha riqueza [fala e vai soltando beijinhos estalados no ar, em direção ao saco lotado]. Amo, amo, amo... Por falar nisso preciso comprar mais e mais [puxa uma cédula da bolsa]. Dinheiro é o que não me falta [a cachorrinha ficará de costas pegando as coisas que estão expostas e ficará tentando fazer entrar no saco que já estará lotado].
COELHINHO [entra pelo lado esquerdo mancando, de pé no chão e bem triste].
GRACINHA: - Oi Coelhinho, tudo bem contigo?
COELHINHO: - Aqui tá doendo ó! [mostra a pata].
GRACINHA: - Nossa, suas patinhas estão cheias de feridas... Mas é porque você é tão pequenino e a estrada está quente e cheia de pedregulhos. Senta aqui que eu vou cuidar de você... [A gata se agacha e finge cuidar do coelhinho].
FLOFY [animada]: - Que legal, chegou a nova coleção de calçados. A cor do momento é o vermelho. Uau! Lindão! Preciso ter!
GRACINHA [vai até a cachorrinha]: - Dona Flofy, por favor compre um calçado para esse coelhinho? Ele mal consegue caminhar porque as patinhas estão machucadas...
FLOFY: - O quê? Gastar meu rico dinheirinho com um coelhinho pobrezinho? Nem pensar! Meu dinheiro é todo para mim, só pra mim. Tem muita coisa de que estou precisando ainda. Se vira lá com ele e me deixa em paz.
GRACINHA [volta até o coelhinho]: - Amiguinho, como eu não tenho dinheiro para comprar um calçado pra você, fique com o meu, pois sou adulta e minha pele é mais resistente. Tó, vou ajudá-lo a colocar.
FLOFY [fica indignada ao ver a cena e diz para a plateia]:- Depois não sabe por que continua pobretona. Onde já se viu ficar ajudando essa bicharada carente!
COELHINHO: - Obrigado! [dá um beijo na Gracinha e vai caminhando e entra no céu, ou seja, na porta estreita do cenário].
FLOFY: - Ainda bem que aquele fedorento foi embora. Ai que nojo... Nossa, bateu uma fome... Vou ali me empanturrar de comida. Ora, ora, você não vem?
GRACINHA: - Eu tenho um lanchinho aqui, quer um pedaço dona Flofy?
FLOFY: - Claro que não né! Olha bem pra mim, você acha que com o meu pedigree posso comer qualquer coisa? [Puxa outra cédula da bolsa]. Dinheiro não me falta! [Vira-se de costas e vai socando coisas de comer dentro do saco que já está lotado].
GRACINHA [pega um paninho embrulhado e olha para as crianças da plateia]: - Vocês estão com fome né bichinhos? O que tenho é pouco, mas vou repartir com vocês. [finge tirar pedacinhos e dá para os bichinhos - as crianças na plateia].
FLOFY [fala de boca cheia, trazendo um pedaço de bolo]: - Acredita que não tinha bolo de chocolate. Detesto de cenoura, eca! [joga no chão]. Ainda bem que comprei outras coisas para eu comer no caminho.
GRACINHA: - Dona Flofy, veja quantos bichinhos famintos [mostra as crianças da plateia], reparta um pouco da sua comida...
FLOFY: - Já estou arrependida de estar no mesmo caminho que você, sabia? Eu já não lhe disse que tudo é meu, só pra mim?
GRACINHA: - É que a senhora poderia ajudar tanto...
FLOFY: - Posso pegar um deles pra levar meu saco que tá bem pesado.
GRACINHA [feliz]: - Para trabalhar para a senhora? Que bom! Quanto a senhora irá pagar?
FLOFY: - Nada.
GRACINHA: - Ahn? Mas é direito do trabalhador... Será em troca de comida, então?
FLOFY: - Claro que não! Será pelo prazer em levar as coisas valiosíssimas de um animal como eu: chique, poderosa, rica...
GRACINHA: - Mas isso é injusto...
FLOFY: - Chega de conversa! Nossa, até que enfim chegamos ao céu! Eita caminhada cansativa e irritante... [ela fica indignada quando fala procurando uma entrada maior] Mas peraí, só tem essa “entradica” para o céu?
GRACINHA: - Sim! A graça de entrar no céu é individual e cada um conquista a sua!
FLOFY: - É muito pequena e estreita.
GRACINHA: - Mas dá para passar. Doe suas coisas e aí a senhora conseguirá entrar.
FLOFY: - Caramba! Passei a vida juntando! Eu achei que para viver com o Rei no céu eu deveria estar cheia de riqueza!
GRACINHA: - O Rei Leão ensinou que além de acreditar nele precisamos fazer sua vontade, que é amar e servir os nossos irmãos. Essa é a única riqueza que importa ao nosso Rei.
FLOFY: - Então é por isso que a porta é tão estreita?
GRACINHA: - Sim, “entrar pela porta estreita” significa, fazer-se pequeno, simples, humilde, servidor, capaz de amar os irmãos, entendeu?
FLOF [pensativa]: - Nossa, sim, sim, acho que entendi! Tudo faz sentido agora. Além de entender, eu percebi que preciso mudar muito meu jeito de ser para conseguir passar por esta porta.
GRACINHA: - Reconhecer o erro já é o começou. Querer mudar e se esforçar vai alterar toda a sua vida para melhor!
FLOFY: Sim, esse é o caminho que terei que percorrer para conseguir entrar no céu.
GRACINHA: - Tchau dona Flofy. Eu espero vê-la no céu, em breve!
FLOFY: - Você verá! Tchau Gracinha.[a gata entra no céu].
FLOFY [fala para a plateia]: - Amiguinhos eu quero muito entrar no céu e para isso preciso mudar. Prometo que não vou me acomodar, vou me esforçar! Vou amar, partilhar, de-sa-pe-gar... [enquanto fala a palavra “desapegar” ela ergue o saco e sai gritando, falando com as crianças sentadas]: - Quer um pedaço de bolo? [coloca o saco no chão e finge tirar a comida e dar para alguém, olha para a plateia e se despede]: - Já me sinto bem melhor e feliz! Tchau!
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