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Foi pra isso que eu vim

Jo 12,20-33

Autora: Cecília Pellegrini

Certo dia o Grão de trigo estava conversando com a dona Terra quando a Pá chegou muito animada e os cumprimentou: - Bom dia, com alegria!

O Grão respondeu com a mesma animação: - Bom dia dona Pá.

Depois a Pá continuou: - Bom dia Terra macia e cheirosa. E aí, tudo bem contigo?

E a Terra respondeu: - Comigo está tudo ótimo, mas...

- Mas, mas o que? Diga logo pois estou curiosa... Falou a Pá ansiosa...

Então a Terra cochichou: - Venha aqui pertinho Pá que irei te contar. Com o Grão de Trigo está tudo mais ou menos, quero dizer: mais pra menos do que pra mais.

A Pá ficou sem entender: - Nossa que enrolação. Tá tudo mais ou menos?

A Terra já estava enfezada: - Pá, você é que está enrolando, ou melhor, está cavoucando demais.

Mas a Pá logo indagou: - Terra, eu posso estar cavoucando, como você diz, mas eu fiquei preocupada com esse negócio das coisas não estarem assim tão boas com o nosso amigo Grão.

O Grão ouviu a conversa das duas e perguntou: - Mas quem disse que as coisas não estão boas comigo?

A Terra falou brava: - Você é pasuda, ou melhor, linguaruda mesmo né?

- Ops, saiu sem querer. Confessou a Pá.

Dona Terra falou de sua indignação: - Desculpa a franqueza Grão, mas eu não consigo entender essa aceitação de tudo o que você está por enfrentar.

- Nossa que tragédia é essa? Me conte tudinho. Disse a Pá morrendo de curiosidade.

Calmamente o Grão contou: - Lógico que eu estou angustiado diante da minha morte.

A Pá ficou desesperada e falou chorando: - O quê? Você vai morrer? Não pode ser!

Dona Terra não deixou por menos e foi logo zombar da amiga: - Pá, quem diria heim, você parece tão forte, mas está mais para um bebezão chorão.

- É que a morte é algo tão triste. Explicou a Pá desconsolada.

Com total resiliência o Grão explicou: - Eu aceito passar por este momento doloroso porque foi pra isso que eu vim.

- Como assim? Como você fala com essa calma? Quis saber a Pá.

E o Grão explicou com a sabedoria de um Mestre: - Eu preciso dar a minha vida, ser enterrado para que nasça uma planta com sementes grandes, firmes, que não se espalham pelo vento.

A Pá ficou admirada: Pera aí, quer dizer que pode vir um vento forte que não consegue derrubar as suas sementes? Uau!

Dona Terra contou um fato importantíssimo: - Que força Grão, não é à toa que os arqueólogos encontraram grãos de trigo carbonizados 8.000 anos atrás.

- Que história fascinante! Tô sem palavras... Disse a Pá.

Nesse momento o Grão sentiu que era o momento: - A conversa está boa, mas é chegada a hora. Pá, você me ajuda a cumprir a minha missão?

A Pá admirada perguntou: - Ah, eu, como assim? Fazer o quê?

E a Terra explicou: - Oras bolas, sua função é cavoucar, então cavouque.

Então a Pá entendeu: - Ah Claro, cavoucar... Prometo que serei delicada contigo Terrinha.

E assim aconteceu: Delicadamente a Pá removeu um pouco de terra para fazer um buraco. O Grão entrou na Terra fofinha e depois de um tempo ele começou a germinar e foi crescendo, crescendo e de um grão surgiram vários grãos de trigo.

Por mais que o vento balançasse forte o trigal, todos os grãos permaneciam firmes e fortes, sem cair do pé.

A Pá, muito alegre e admirada exclamou, batendo palmas: - Palmas, palmas! Uau! Que transformação! Quem te dá essa força Grão?

O Grão explicou: - É a mãe Natureza. Por maiores que sejam a dor e as provações que vivenciamos a Mãe Natureza sempre nos dá forças para suportá-las.

A dona Terra concordou e completou: - Precisamos saber acolher essas provações como oportunidades de amadurecimento.

Mas os ensinamentos do Grão não pararam: - E depois que nasço, novamente maravilhas se realizam.

A Pá cochichou com a Terra: - Esse Grão tá se achando. Está metido demais.

A Terra o repreendeu: - Pá, não fale assim do nosso amigo. Ele sabe o que está dizendo. Ele sacia a fome de milhares de pessoas e animais.

- Como assim? Perguntou a Pá.

O Grão, com humildade explicou: - Eu sou o alimento básico para fazer farinha e desta o pão, macarrão, biscoitos e bolachas, pizza, bolo e forragem para animais comerem, assim como o feno.

Depois de ouvir a explicação a Pá entendeu: - Espera aí, espera aí! Entendi tudinho: a aparente morte do Grão é a condição para que ele libere a capacidade de vida que possui.

- Exatamente! Todos responderam.

E o saber da Pá não parava: - De um só grão nascem muitos outros!

A dona Terra perguntou: - O Grão entrega a sua vida para salvar o mundo da fome entendeu?

E a Pá respondeu alegre: - Entendi tudinho! Ele teve que perder a própria vida para salvar outras.

- Exatamente! Os amigos confirmaram.

E o Grão concluiu: - Foi pra isso que eu vim!

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