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Lavanderia da Palmira

Lc 9, 28b-36

Autora: Cecília Pellegrini

A historinha de hoje se passa na Lavanderia da Palmira. Uma legítima baiana, tataraneta de escravos que fugiram para o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, na época da escravidão brasileira.

Palmira tinha muito trabalho, de segunda a segunda, mesmo com a idade avançada, e devido às suas dificuldades financeiras tinha que lavar as roupas manualmente.

Certo dia ela estava entretida cantarolando enquanto esfregava as roupas sujas: -“Lava roupa todo dia, que agonia”... Ufa, vida de lavadeira não é moleza! Mas eu não posso me queixar, pois a minha lavanderia tem muitos clientes. Nossa ainda falta esse monte de roupas para lavar e acabou o sabão. Vou comprar mais.

Assim que a Lavadeira saiu as roupas ganham vida. A primeira a sair do monte foi uma Calça jeans comprida, chamada Calçoleta.

Ela espiou para os lados para ver se estavam sozinhos e chamou o colega: - Venha, venha, a barra está limpa.

O Paletó saiu também, meio desconfiado: - Calçoleta, tem certeza de que não tem ninguém?

Ela confirmou: - Pode vir Paleolítico, a barra tá limpa.

O Paletó ficou aliviado: - Ainda bem porque eu não aguentava mais ficar parado. Parece que a Palmira está meio devagar hoje, você não acha?

Nisso, um lindo vestido de festa colocou uma de suas mangas para fora do monte e falou: - Seus tagarelas, será que dá para vocês pararem com essa fofoca e vir me ajudar a sair desse monte de roupa suja?

A Calça suspirou: - Acabou o nosso sossego, a chata da Vestidina acordou.

Mas o Paleolítico reagiu: - Mas ela é um vestido longo belíssimo. Como sou um paletó a moda antiga...

A Calça retrucou: - Por isso chama-se Paleolítico, óbvio.

E o Paletó continuou: - Não posso deixar de atender a um pedido de uma dama. Vestidina, já estou indo ajudá-la.

Os dois vão ajudar o vestido longo a sair de um monte enorme de roupas sujas que ainda estavam dormindo.

Assim que se livrou do monte, o Vestido falou: - Eu ouvi você me chamando de chata, viu dona Calçoleta. Mas obrigada por me tirarem desse monte de roupa suja e fedida.

O Paletó convidou os amigos para uma prosa: - Vamos aproveitar que a Palmira saiu e vamos conversar?

Então a Calça começou: - Ei, vocês não acham que está demorando mais para ficarmos limpos? Parece que a Palmira está cada dia mais cansada. Ela demora muito para dar conta de toda a roupa suja.

O Vestido retrucou: - Você grosseirona, com esse jeans todo, dá mais trabalho para ela mesmo. Eita calça grossa, pesada!

A calça esbravejou: - Eu sou grossa sim, mas ela demora mais para lavar você, sabia?

A Vestidina se defendeu: - Também pudera, sou finíssima, delicada, um vestido social, de festas chiques, de gala. Não uma calça durona, feito você [fala em tom de briga].

O Paleolítico interveio: - Parem senhoras. Vamos aproveitar nosso tempo de folga sendo amigos, conversando sobre assuntos interessantes e não discutindo.

Nisso ouviu-se a Palmira que vinha cantando...

O Vestido entrou em pânico: - O quê? A Palmira vem vindo!

As roupas se apressaram a se juntar às outras roupas do monte: - Vamos, vamos...

A Lavadeira falou: - Aqui tem mais sabão. Vamos continuar com a lavação.

Ela abaixou-se e começou a cantar novamente e a esfregar: - “Lava roupa todo dia, que agonia.”

Ela parou ao ouvir o seu celular tocando. Palmira levantou-se, enxugou as mãos e atendeu: - Alô, Lavandeira da Palmira. Sim, ela mesma. Isso, isso, sim, exatamente. O quê? Eu fui a ganhadora do Concurso do Domingão do Sabão? Eu ganhei uma máquina de lavar roupas?

O paletó e a calça se entreolharam e fizeram uma expressão de alegria, mas o vestido ficou triste.

A Palmira continuou ao celular: - Tá, tá, sim, sim. Irei receber o prêmio imediatamente. Obrigada. Até logo!

Ela desligou o celular e começou a falar sozinha: - Não acredito! Eu ganhei uma máquina de lavar roupa. Deus atendeu as minhas preces. Obrigada Senhor! Vou agora mesmo buscar o meu prêmio.

Tão logo ela saiu apressada as roupas também saíram do monte.

O Vestido longo chorava muito: - Vivivivivivivi. Não, não, não pode ser! Vivivivi...

O Paleolítico perguntou preocupadíssimo: - Qual o motivo da choradeira, Vestidina?

Ela respondeu: - A Palmira ganhou uma máquina de lavar roupa. Vivivivivivivi.

A Calçoleta falou: - Isso é ótimo: Ela vai se cansar menos e estaremos limpos rapidamente. Isso é uma maravilha!

Vestidina se explicou: - Eu sou muito delicada, na primeira lavada essa máquina vai me rasgar toda. Pra esfregar a máquina faz “chileque” pra cá, “chileque” pra lá.

Ela fez os movimentos da máquina enquanto falava: - E pra centrifugar então, vai fazer assim ó. Fez movimentos circulares rápidos enquanto chorava.

Girando de tanta felicidade a Calçoleta demonstrava: - Pois eu irei adorar esse movimento. Viu como é bom ser feita de tecido grosso? Pois eu quero que a Palmira coloque na posição Turbo!

E começou a se mexer exageradamente.

A Vestidina chorava escandalosamente enquanto gritava desesperada: - Será o meu fim... Vivivivivivivi

A calça fez mais gestos e sons imitando uma máquina de lavar roupas e isso deixou o vestido sofrendo ainda mais.

O Paleolítico interveio: - Para, para Calçoleta. Você não está vendo o sofrimento da nossa amiga?

Depois ele foi até o Vestido: - Ei Vestidina, calma, amiga.

Mas a amiga anunciou: - Meu fim está próximo.

Foi a hora em que o amigo perguntou: - Cadê a sua fé? Que tal rezarmos?

O Vestido respirou fundo e se recompôs: - Poxa, como não pensei nisso? Obrigada amigo Paleolítico. Sim, vou orar muito e pedir ao grande Costureiro uma solução.

- Ele irá ouvir as suas preces e te ajudará. Confie. Disse o Paletó com muita convicção.

Calçoleta também quis entrar nessa corrente de oração: - Vestidina, eu não lhe desejo nenhum mal. Também quero me unir a vocês nessa aliança com o nosso Mestre Costureiro. Ele que nos criou com tanto amor e carinho irá lhe atender.

As 3 peças de roupa ajoelharam-se e oraram com muita fé. Só pararam quando ouviram a Palmira chegar falando ao celular com o marido dela: - Meu amor, você precisa ver, a máquina é linda! Cabem 50 quilos de roupa de cada vez. Vão arrumar 5 carregadores para trazer a máquina aqui pra Lavanderia! Agora vou poder pegar mais clientes. Querido, já agradeci tanto, mas tanto a Deus! Agora poderei colocar todas as roupas na máquina, menos as delicadas de seda, cetim, organza...

Enquanto ela falava ao telefone ela pegou o vestido e começou a acariciá-lo: Os tecidos finos serão lavados a mão, com muito, muito carinho.

Amor, agora vou desligar porque ficarei na porta da Lavanderia para esperar o caminhão chegar com o meu prêmio.

Assim que a Palmira entrou o Vestido foi o primeiro a fazer a maior festa: - Viva, viva. Vocês ouviram? E Abraçou o paletó e a calça: - Obrigada Paleolítico por me mostrar a importância da fé, da oração.

O Paleolítico como um mestre ensinou: - Lembrem-se sempre de que não estamos sozinhos e a oração é uma ligação do céu com a terra.

O Vestido entendeu a lição e refletiu: - A oração nos dá esperança...

E todos concluíram : - É uma linda aliança!

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