Mar de Amor!
- Ovelhinha
- 18 de out. de 2018
- 6 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2020
Mc 7,1-8.14-15.21-23
Autora: Cecília Pellegrini
Certo dia, em sua casa, no oceano, a Estrela do Mar estava radiante, trazendo um prato de comida. Primeiro ela cheirou a comida e depois falou: - Hum, que cheirinho gostoso! Fiz especialmente para a visita que o Rei dos Mares fará aqui, na minha linda casa!
E colocou mais um prato delicioso na farta mesa da sala de jantar.
A Sereia e seus dois filhinhos, Peixolita e Peixereta, foram os primeiros convidados a chegar e tocaram a campainha: - Glup, glup, glup.
A Estrela pensou: - É a minha melhor amiga, “BFF”, a Sereia.
Antes de abrir olhou pelo buraco da fechadura para confirmar: - Hum, mas ela trouxe aqueles filhos chatinhos... Peixe-criança mexe em tudo, nada pra cá, nada pra lá... Mas, fazer o quê?
Foi até a porta e abriu: - Querida, que prazer, entre...
A Sereia foi logo observando: - Obrigada. Nossa, você reformou a sua casa, ficou linda! E... você está mais bonita, fez outra cirurgia plástica?
A Estrela ficou toda envaidecida e foi gesticulando afirmativamente, enquanto a amiga continuou a elogiar: - As suas roupas são lindas, o cabelo sedoso...
- Realmente eu fiz uma recauchutagem completa, mas espera aí Sereia, você veio com seus dois filhos e não trouxe nada para contribuir com o lanche? Perguntou a Estrela.
A Sereia respondeu: - Eu não sabia que precisava. Você é tão rica...E veja, a mesa está lotada.
- Sou rica, mas não sou obrigada a ficar dando comida pra ninguém. A Estrela afirmou.
A filha da Sereia, a Peixolita perguntou: - Mas a gente vai poder comer, né?
Antes que a dona da casa respondesse, Peixereta alertou: - Psiu. Escutem, escutem, o Rei dos Mares está chegando.
Logo se ouviu a campaninha: - Glup, glup, glup.
A Estrela do Mar foi atender a porta: - Que honra, que satisfação!
E falou para a amiga baixinho: - Morra de inveja... O rei está na minha casa!
Em seguida observou que ele também não trouxe nada para contribuir com o almoço.
Mas se recompôs na simpatia e voltou a falar com o rei: - Pode entrar grande Rei dos mares, dos rios e das fontes.
O Rei agradeceu: - Obrigado. Eu estou feliz em poder conhecer cada um e cada uma que moram aqui na nossa Comunidade do Amor.
Todos os convidados falaram e mostraram o símbolo da Comunidade, que era um enorme coração azul: - Um mar de amor!
O rei concordou: - Sim, sim, um mar de amor!
Os peixinhos, filhos da Sereia foram até o rei.
Peixolita falou: - O senhor é muito bonzinho.
E Peixereta completou: - É, o senhor nos ensina só coisas certas, como devemos tratar os moradores da Comunidade do Amor!
A Estrela quis logo entrar na conversa: - Eu adoro morar aqui e amo todos, todos, todos, você, você, você e vocês.
Ela foi apontando cada convidado e continuou o discurso: - Eu faço tudo direitinho: trabalho, cuido do meu corpo, da minha casa, sigo tudo o que os meus avós ensinaram aos meus pais e eles ensinaram pra mim. Tradição é comigo mesma.
A Sereia também quis participar: - Eu também faço tudo direitinho...
- Muito bem. Elogiou o Rei.
A Estrela e a Sereia disseram: - Também rezamos muito.
E a Estrela deu detalhes: - É, eu rezo o dia inteiro: pela manhã, à tarde, à noite. Às vezes acordo pela madrugada e fico rezando, rezando...
- Eu também! Falou a Sereia.
Os Peixinhos sugeriram: - Vamos comer?
A Estrela pega os dois pelas barbatanas e fala baixinho para não ser ouvida pelo restante: - Esfomeados!
Depois fala alto: - Claro queridinhos. Antes, nosso ritual da lavação...
Todos correram fazer uma fila e cada um foi até uma bacia, que estava num móvel da sala de jantar, e lavaram as mãos. Depois fizeram uma oração de agradecimento.
Enquanto o Rei fazia tudo certo os outros faziam tudo muito mecânico, decorado e rápido, sendo que, no meio da oração, enquanto os outros continuavam a orar, a Estrela ficava repreendendo os peixinhos o tempo todo.
A oração que eles falavam era assim: - “Senhor, nas profundezas desse imenso oceano, vos agradecemos e vos bendizemos. Cremos que Tu és a fonte da paz, da justiça e da verdade. Assim como o Vosso imenso amor tudo perdoa, também perdoamos aqueles que nos ofenderam. Obrigado Senhor pela vida que temos e por esse alimento que vamos comer. Amém!”
E ao terminarem a oração, que mais parecia uma obrigação, todos, menos o Rei, gritaram: - Pronto!
A Estrela mostrou as mãos e disse: - Mãos limpas e oração feita.
O Polvo chegou na casa da Estrela do Mar e apertou a campainha: Glup, glup, glup.
A Estrela foi abrir e ficou chocada ao vê-lo com o pão no tentáculo, sem estar dentro de um saco apropriado.
Ele, muito humilde a cumprimentou e entregou o pão: - Oi Estrela. Aqui está...
A dona da casa ficou indignada: - Que falta de educação: chegou atrasado e trouxe o pão que iremos comer com esses tentáculos imundos, seu polvo!
Todos, menos o Rei, gritaram: - Polvo não, Porco!
E começaram a imitar um porco fazendo grunhidos.
O Polvo se explicou: - Desculpem pelo atraso, mas a dona Moreia ficou doente e eu fui ajudá-la.
- Pois eu não te desculpo. Disse a Estrela.
- Eu também não. Falou a Sereia.
A Estrela muito brava completou: - Será que você não vê que hoje é um dia especial, que o nosso rei, o Senhor das águas doces e salgadas veio a minha casa? Nem sei por que fui convidar esses vizinhos mal educados...
A Sereia falou baixinho para os seus filhos: - Eu sei, ela nos convidou só para esnobar.
O Polvo, muito triste, desculpou-se: - Mil desculpas a todos. Senhor Rei, minha vida está muito corrida. Eu me atrasei porque eu cuido de dois doentes e agora a dona Moreia também precisou de mim...
O Rei foi abraçá-lo: - Eu sei tudo sobre cada um dos meus filhos, e você Polvo, muito me agrada.
- O quê? Ele te agrada? Falou a Estrela indignada.
A Peixolita ofereceu comida ao polvo e ele comeu.
Ao ver a cena, a Estrela, muito brava comentou: - Rei, veja, ele nem parece um ser do mar, parece um porco, pois é sujo e não faz o ritual da lavagem das mãos.
A Sereia foi logo gritando: - Polvo porco, polvo porco.
E a Estrela completou: - Seu Polvo impuro.
O Rei ensinou: - O que torna alguém impuro não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.
- Não entendi nadinha. Disse a Estrela ao Rei.
Ele explicou: - É de dentro da pessoa que saem as más intenções, a inveja, a ambição. O que adianta fazer todos os rituais e não tratar bem os outros? O polvo pode não ter lavado os tentáculos, mas tem o coração mais limpo que existe.
Todos perguntaram: - Como assim?
E o Rei continuou a explicação: - Ele não fala mal de ninguém, não é invejoso, reparte tudo o que tem, cuida de quem precisa. Ele tem o olhar aberto à solidariedade e à transformação do mundo. Ele é o verdadeiro morador da Comunidade do Amor.
- Eu quero ser como ele. Afirmou Peixereta.
- Eu também! Disse Peixolita e depois os dois peixinhos correram abraçar o Polvo.
O Rei orientou: - Muito bem, sigam o exemplo dele e serão muito felizes. Mais importante que o ritual, mais importante que a oração que sai da boca é querer estar perto do Pai o tempo todo e, para isso, é preciso estar atento a tudo o que fazemos e falamos. O nosso coração precisa ser um Mar de Amor!
A estrela do Mar deixou escapar e falou alto: Ops, o meu coração ainda não é um mar de amor.
O bondoso Rei disse: - Reconhecer o erro já é um excelente passo. Agora Peixinhos falem para a Sereia e para a Estrela o que precisamos fazer para sermos melhores.
E eles foram falando: perdoar, partilhar, tratar bem a todos, ajudar todos que precisam, não falar mal, respeitar...
Depois de tudo ouvir e muito refletir a Estrela falou: - Pois é, preciso mudar, preciso fazer uma recauchutagem completa no meu coração!
Os Peixinhos disseram: - É fácil mudar, basta querer!
- E nós queremos! A Estrela e a Sereia falaram felizes.
O Rei alertou: - É preciso que o nosso coração seja puro...
E todos concluíram: - Um verdadeiro mar de amor.
Daquele dia em diante tudo melhorou no Fundo do Mar porque todos procuraram ter um coração puro.
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