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O acerto de contas

Atualizado: 14 de out. de 2020

Mt 25,31-46

Autora: Cecília Pellegrini


Certa vez dona Vaca estava cantando dentro de sua casa enquanto ordenhava: - “Tira o leite que a vaquinha tem e o bezerro vem beber também”...

De repente, ela gritou brava: - Parou! Que negócio é esse do bezerro beber também? Eu sou uma vaca leiteira sim, mas não dou meu leite pra ninguém. Não adianta nenhum bichinho ficar olhando feito uns bezerros desmamados porque esse leite quentinho, gostosinho é só meu. 

Sabem porque a vaca não repartia o seu leite? Porque ela tomava banho com ele, pois a nata deixava sua pele dela suave, macia...

Certo dia, enquanto ela estava se embelezando, a dona cabra e seus filhotes chegaram à porta da casa da vaca dizendo: - Meééééééééé.

Dona vaca saiu e falou nervosa: - Parem com esse méééééé. Que gritaria é essa. Que vizinhos mais barraqueiros.

A cabra, toda sem graça: - Desculpe, dona Vaca... como é mesmo o seu nome?

A vaca espichou todo o pescoço, com ar de superioridade: - Eu sou a dona Vaca Mesquinha. Se não sabe o significado de Mesquinha vá ao dicionário e procure.

Os cabritinhos começaram a chorar e a vaca fechou os ouvidos: - Meééééé.

A cabra implorou: - Psiu filhinhos. A dona vaca Mesquinha não quer barulho.

A mesquinha foi pra cima dos cabritinhos com o dedo em riste: - Isso mesmo, cabritos insolentes, a dona vaca aqui, euzinha, não quer ouvir barulho. Quietos!

Os cabritinhos ficaram com medo e a mãe correu afagá-los: - Desculpe, dona Vaca, mas meus filhinhos estão com fome. O pasto está muito ralo com essa seca toda. Não tenho quase nada para dar a eles.

- Ora, dê o seu leite. Esbravejou a Mesquinha. 

Com muita humildade, a cabra respondeu: - Bem que eu queria ter tetas fartas quanto as suas, mas como eu não tenho comido diReito, meu corpo não consegue produzir muito leite.

A vaca desdenhou: - Quem mandou ter esse monte de cabrito. Bem fiz eu que não tenho bezerro pra mamar.

Os filhotinhos choravam de fome e a mãe não sabia mais o que fazer: - Mééééééé.

Enquanto a cabra tentava silenciar os pequenos, a vaca resmungava: - Já vi que esses cabritos vão me encher a paciência. E gritou: - Vá embora daqui...

A cabra saiu cabisbaixa: - Até logo, dona Vaca. 

A vaca não respondeu e se trancou em casa para não ser mais incomodada. No conforto da linda residência ela falava sozinha: - Nossa que bichos insolentes! A casa daquela Cabra deve ser de um mal gosto... A minha casa sim, é linda: sou fashion, tenho bom gosto. Adoro colecionar coisas que lembra o quanto minha raça é importante. Vejam: é casaco de couro, é calça de couro, é bolsa de couro, é sapato de couro... e esse tapete, então? Olha só esse pincel! Os humanos fazem pincel com os pelos do rabo dos bois, vacas e touros. Eita raça superior...  Fazem até esterco com o nosso cocô para adubar a terra! Nossa, essa conversa toda me deu uma fome... Hum... vou comer um pouco de ração e depois faRei duas horas de bicicleta ergométrica para o meu leite ser light.

E começou a pedalar sem parar quando dois porquinhos começaram a chamar: - Dona Vaca, dona Vaca.

- Quem está aí? Gritou brava!

- Somos nós, o Quinho e a Tina

A Vaca ficou furiosa, parou de pedalar e abriu a porta: - Eu lá vou saber quem é Quinho e Tina? 

A porquinha falou chorando: - Levaram a nossa mãe.

- E eu com isso? O mundo precisa de lingüiça, salsicha... A vaca respondeu sem compaixão.

O porco começou a falar enquanto chorava muito: - Mas somos pequenos e ainda estávamos mamando.

- E eu com isso? Parem de chorar! Engulam o choro!

A Tina explicou: - Eu tô com frio...

O Quinho completou: - Eu tô com fome...

- E eu tô de saco cheio! Parem de chorar e saiam já daqui, fora...

A Cabra, que era vizinha da dona Mesquinha, veio correndo, muito preocupada: - Dona Vaca, a senhora está nervosa, o que aconteceu?

A Vaca respondeu brava: - O que aconteceu? Esses porcos chorões iguaizinhos aos seus filhos ficam me torrando a paciência: estou com fome, estou com sede, estou com frio.

Comovida, a Cabra afagou os porcos: - Mas eles são tão filhotinhos ainda... Veja, a pata dela está machucada.

- Eu machuquei no espinho. Explicou Tina.

- Como irão sobreviver sozinhos? Questionou a Cabra.

- Tá com pena... cuida deles. Retrucou a Vaca

Com muita humildade, a Cabra explicou: - Eu até posso cuidar, mas não tenho quase nada de comida. Mal dá para a minha família. Se a senhora me desse um pouco da sua comida...

A Mesquinha interrompeu raivosa: - Pode parar, stop, finish, encerrou, zefini. Eu não dou nada pra ninguém, principalmente para porcos. Se ainda fosse um gatinho bonitinho, quem sabe, mas porcos... nem pensar.

Os porcos começaram a chorar e os cabritinhos correram abraçá-los: - Mééééééééé´

- Saiam, saiam da minha porta. Está esfriando e eu preciso me recolher. Não quero ouvir mais choradeira. A mesquinha gritou, sem compaixão.

A cabra pegou os pequenos: - Vamos para a minha casa porquinhos. Nós vamos dividir o pouco que temos.

Ao chegarem na sua humilde casa, a cabra colocou um pano no machucado da Tina e pegou um único pratinho e colocou um pouquinho de comida na boca de cada porquinho e cabritinho.

Mas os dois porquinhos e os cabritinhos falaram: Ainda estou com fome...

Sem ter mais nada, a cabra aconselhou: - Vamos dormir que a fome passa...

Depois ela pegou uma pequena coberta e tentou agasalhar todos e ficou ao lado tremendo de frio. 

Em compensação a vaca sentou-se na confortável cadeira de couro de sua mansão, cobriu-se com um enorme cobertor e ficou comendo enquanto assistia a um filme na TV.

De repente ouve-se um rugido...

Dona vaca e a cabra levantaram apressadamente e disseram: - O Rei Leão! 

A cabra chamou os filhotes: - Acordem, pequenos! O nosso Rei chegou!

Todos animais se juntaram e reverenciaram o Rei.

O Leão solicitou: - Vaca, fique deste lado.

Mesquinha, toda convencida cochichou no ouvido da Cabra: - Viu como ele me escolheu primeiro? Nada como ser vaca leiteira, cheia de posses... 

E o Rei continuou: - E Cabra, fique deste outro lado.

Os cabritinhos e os porquinhos acompanharam-na.

Sua Majestade explicou o motivo de sua vinda: - Eu estou aqui para dar uma herança para uma de vocês.

- Não precisava meu Rei, mas já que você está aqui pode dizer-me qual a herança? Dona Vaca questionou.

- A herança é morar junto comigo. Respondeu.

Dona Vaca não se conteve: - No palácio do Rei? Junto com o senhor? Eu sabia que nasci para ser da realeza: - Então, diga logo majestoso, querido Rei Leão...

E o Rei anunciou: - Receberá a herança aquela que cuidou de mim.

Tanto a vaca quanto a cabra questionaram: - Cuidou do senhor?

- Sim. Confirmou prontamente.

A Vaca falou meio gaguejando: - Cuidou da vossa majestade como? Quando?

E o Leão explicou: - Quando eu estava com fome e me deram de comer, quando eu estava com sede e me deram de beber, quando eu estava doente e cuidaram de mim.

As duas pensaram e afirmaram: - Mas... nunca te vimos assim!

Mesquinha riu muito e depois falou: - Qualé realeza, você tipo um pobretão pedindo esmola?

- Exatamente, hoje eu visitei a sua casa, Vaca.

A Vaca perguntou gaguejando: - Hoje? 

E pegando os dois porquinhos pelas patinhas, o Rei explicou: - Sim, quando esses meus irmãos vieram te pedir ajuda.

- Nossa essa historinha está difícil de entender. Irmãos? O que tem a ver esses porcos com o senhor? Esbravejou a vaca sem entender nada.

Calmamente, sua Alteza explicou: - Tem tudo a ver. A Mãe Natureza nos fez todos irmãos. Se você ajuda um necessitado é a mim que você está ajudando. Cabra, como foi você quem os ajudou eu te convido, junto com a sua família, para morarem dentro do meu palácio.

A cabra e os filhotes ficaram muito felizes e se abraçaram.

Os cabritinhos perguntaram: - Os porquinhos podem ir junto?

- Lógico! O Rei respondeu.

- Oba! Os filhotes pularam felizes.

- Então vamos. Disse sua Alteza.

Quando eles estavam saindo, a Vaca interrompeu: - Rei, Rei... Se eu mudar esse meu jeito egoísta de ser e passar a ajudar os animais o senhor me aceitará também no seu Reino?

Com muito amor o Rei concordou: - Mas é claro! A Mãe Natureza nos quer no caminho da solidariedade, da fraternidade, da paz e da justiça. Tchau minha irmã!

A vaca ficou olhando até eles sumirem na estrada e refletiu: Ele me chamou de irmã! Eu tive chance de ajudar aqueles porquinhos e não ajudei, mas nunca é tarde para mudar... já sei o que farei: - Vou pegar todo esse leite e a comida que tenho e vou repartir com os bichinhos que estão com fome. 

E com muita convicção afirmou: - Eu vou melhorar para o Reino alcançar. Tchau!

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