O acerto de contas
- pelegrincecilia
- 10 de mar. de 2021
- 6 min de leitura
Mt 25,31-46
Autora: Cecília Pellegrini
Cenário: Dividido em duas partes: lado direito é a casa da vaca e do lado esquerdo é a casa da cabra.
Lado da vaca: milho, um saco escrito ração, uma bicicleta ergométrica, uma cadeira de couro e um tapete de couro. Um móvel com casaco, calça e calçado de couro, pincel.
Lado da cabra tudo muito simples: sem móveis e pouca comida.
Personagens: Vaca, Cabra, 4 cabritinhos, 2 porquinhos, Leão.
[Música A Vaquinha do CD Festa dos Bichos - Lado B - 05 - Turminha Patati Patata.]
[A vaca, com enormes tetas, entra com um balde na mão. Quando chega em sua casa começa a cantar o refrão junto com o CD.]
VACA [coloca o balde no chão e finge ordenhar em suas tetas]: - “Tira o leite que a vaquinha tem, e o bezerro vem beber também”... Parou! Que negócio é esse do bezerro beber também? Eu sou uma vaca leiteira sim, mas não dou meu leite pra ninguém. Não adianta ficarem olhando feito uns bezerros desmamados [fala com as crianças da plateia] esse leite quentinho, gostosinho é só meu. Sabem pra que eu uso? Para o meu banho matinal. A nata deixa minha pele suave, macia... [finge embelezar-se.]
[Entra em cena uma cabra com seus cabritinhos.]
CABRA e CABRITINHOS: - Meééééééééé.
VACA: - Parem com esse méééééé. Que gritaria é essa. Que vizinhos mais barraqueiros.
CABRA: - Desculpe dona Vaca, como é mesmo o seu nome?
VACA: - Dona Vaca Mesquinha. Se não sabe o significado de Mesquinha vá ao dicionário e procure.
CABRITINHOS: - Meééééé [a vaca fecha os ouvidos.]
CABRA: - Psiu filhinhos. A dona vaca Mesquinha não quer barulho.
VACA [indo pra cima dos cabritinhos]: - Isso mesmo cabritos insolentes, a dona Vaca não quer ouvir barulho. Quietos [cabritinhos ficam com medo.]
CABRA [afaga os filhotes]: - Desculpe dona Vaca, mas meus filhinhos estão com fome. O pasto está muito ralo com essa seca toda. Não tenho quase nada para dar a eles.
VACA:- Ora, dê o seu leite.
CABRA: - Bem que eu queria ter tetas fartas quanto as suas, mas como eu não tenho comido direito, meu corpo não consegue produzir muito leite.
VACA: - Quem mandou ter esse monte de cabrito. Bem fiz eu que não tenho bezerro pra mamar.
CABRITINHOS: - Mééééééé.
CABRA [afaga os filhos]: - Psiu.
VACA [para a plateia]: - Já vi que esses cabritos vão me encher a paciência [entra em sua casa.]
CABRA: - Até logo, dona Vaca. [vaca não responde.]
VACA [falando com a plateia]: - Nossa, vocês viram a casa daquela Cabra? Que mal gosto, que sem nada. A minha casa sim é linda: sou fashion, tenho bom gosto. Adoro colecionar coisas que lembram o quanto minha raça é importante. Vejam: é casaco de couro, é calça de couro, é bolsa de couro, é sapato de couro, e esse tapete então? Olha só isso [mostra um pincel], os humanos fazem pincel com os pelos do rabo dos bois, vacas e touros. Eita raça superior... Fazem até esterco com o nosso cocô para adubar a terra, acredita nisso? Nossa essa conversa toda me deu uma fome... Hum, vou comer um pouco de ração [finge comer] e agora vou fazer 2 horas de bicicleta ergométrica para o meu leite ser light [começa a pedalar.]
[Entra em cena 2 porquinhos fazendo sons característicos.]
PORCOS: -Dona Vaca, dona Vaca.
VACA: - Quem está aí?
PORCO: - Somos nós, o Quinho e a Tina
VACA [para de pedalar]: - Eu lá vou saber quem é Quinho e Tina?
PORCA [chorando]: - Levaram a nossa mãe.
VACA: - E eu com isso? O mundo precisa de lingüiça, salsicha...
PORCO: - Mas somos pequenos e ainda estávamos mamando [choram bem alto.]
VACA: - E eu com isso?.Parem de chorar [continuam chorando]: - Engole o choro.
PORCA: - Eu tô com frio...
PORCO: - Eu tô com fome...
VACA: - E eu tô de saco cheio [choro dos porcos. Vaca grita]: - Parem e saiam já daqui, fora...
CABRA [preocupada]: - Dona Vaca, a senhora está nervosa, o que aconteceu?
VACA: - O quê aconteceu? Esses porcos chorões iguaizinhos aos seus filhos ficam me torrando a paciência: estou com fome, estou com sede, estou com frio.
CABRA [afaga os porcos]: - Mas eles são tão filhotinhos ainda... Veja, a pata dela está machucada.
PORCA: - Eu machuquei no espinho.
CABRA: - Como irão sobreviver sozinhos?
VACA: - Tá com pena, cuida deles.
CABRA: - Eu até posso cuidar, mas não tenho quase nada de comida. Mal dá para a minha família. Se a senhora me desse um pouco da sua comida [a vaca interrompe.]
VACA: - Pode parar, stop, finish, encerrou, zéfini. Eu não dou nada pra ninguém, principalmente para porcos. Se ainda fosse um gatinho bonitinho, quem sabe, mas porcos, nem pensar...
[Os porcos começam a chorar e os cabritinhos correm abraçá-los.]
CABRITINHOS: - Mééééééééé´
VACA: - Saiam, saiam daqui. Está esfriando e eu preciso me recolher. Não quero ouvir mais choradeira.
CABRA: - Vamos para a minha casa porquinhos. Nós vamos dividir o pouco que temos.
CABRA [coloca um pano no machucado da porca e pega um único pratinho e coloca um pouquinho de comida na boca de cada porquinho e cabrito]: - Vamos tratar do seu machucado e aqui tem um pouquinho de comida para cada um.
PORQUINHOS e CABRITOS: Ainda estou com fome...
CABRA: - Vamos dormir que a fome passa [todos sentam no chão, com uma pequena coberta ela cobre todos e fica ao lado tremendo de frio.]
[A vaca senta-se na cadeira de couro e cobre-se com um enorme cobertor e fica comendo o tempo todo.]
[Música imperial para a entrada do rei leão pelo corredor central]
VACA e CABRA: - O Rei Leão! [levantam-se apressadas.]
CABRA: - Acordem pequenos, o nosso rei chegou.
[Quando o rei chega no palco todos os animais estão juntos e fazem gesto igual de reverência.]
LEÃO: - Vaca, fique deste lado [mostra o lado esquerdo].
VACA [fala com a cabra]: - Viu como ele me escolheu primeiro? Nada como ser vaca leiteira, cheia de posses...
LEÃO: - E Cabra, fique deste outro lado. [Os cabritinhos e os porquinhos acompanham a cabra.]
LEAO: - Eu estou aqui para dar uma herança para uma de vocês.
VACA: - Não precisava meu rei, mas já que você está aqui pode dizer-me qual a herança?
LEÃO: - A herança é morar junto comigo.
VACA: - No palácio do rei? Junto com o rei? [fala pra plateia]: - Eu sabia que nasci para ser da realeza [volta-se ao rei]: - Então diga logo majestoso, querido Rei Leão...
LEÃO: - Receberá a herança aquela que cuidou de mim.
VACA e CABRA: - Cuidou do senhor?
LEÃO: - Sim
VACA [fala meio gaguejando]: - Cuidou da vossa majestade como? Quando?
LEÃO: - Quando eu estava com fome e me deram de comer, quando eu estava com sede e me deram de beber, quando eu estava doente e cuidaram de mim.
VACA e CABRA: - Mas... nunca te vimos assim!
VACA [rindo]: - Qualé realeza, você, tipo um pobretão pedindo esmola?
LEÃO: - Exatamente, hoje eu visitei a sua casa Vaca.
VACA [gaguejando]: - Hoje?
LEÃO: - Sim, quando esses meus irmãos [pega os porquinhos] vieram te pedir ajuda.
VACA: - Nossa essa historinha está difícil de entender. Irmãos? O que tem a ver esses porcos com o senhor?
LEÃO: - Tem tudo a ver. A Mãe Natureza nos fez todos irmãos. Se você ajuda um necessitado é a mim que você está ajudando. Cabra, como foi você quem os ajudou eu te convido junto com a sua família para morarem dentro do meu palácio.
[A cabra e filhotes felizes se abraçam.]
CABRITINHOS: - Os porquinhos podem ir junto?
LEÃO: - Lógico!
CABRITOS e PORCOS: - Oba! [pulam felizes.]
LEÃO: - Então vamos. [vão saindo quando a vaca interrompe.]
VACA: - Rei, rei... Se eu mudar esse meu jeito egoísta de ser e passar a ajudar os animais o senhor me aceitará também no seu reino?
LEÃO: - Mas é claro. A Mãe Natureza nos quer no caminho da solidariedade, da fraternidade, da paz e da justiça.Tchau, minha irmã [saem de cena pelo corredor central.]
VACA [feliz]: - Vocês ouviram, ele me chamou de irmã. Eu tive chance de ajudar aqueles porquinhos e não ajudei, mas nunca é tarde para mudar, não é? Sabem o que eu vou fazer agora? Vou pegar todo esse leite e a comida que tenho e vou repartir com os bichinhos que estão com fome. Eu vou melhorar para o reino alcançar. Tchau!
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