O trem da Alegria está próximo

Mc 13,33-37

Autora: Cecília Pellegrini

Certo dia dona Vaca com uma bolsa enorme de viagem, óculos de sol, foi para uma parada de trem. De repente, ela abre sua bolsa, retira um binóculo enorme e fica olhando no horizonte.

O Burro chega trazendo um enorme guarda-chuva e, ao ver a Vaca, cumprimentou-a: - Oi Filomena!

A Vaca prontamente respondeu: - Muuuuuuu. Oi Belarmino.

- Mas você está muito bonita hoje. E pra que esses óculos de sol se nem sol tem? Perguntou o Burro.

Ela explicou: - Primeiro, que eu sou chique mesmo. Segundo que eu sou otimista.

Ele continuou o papo rindo: - Você tem que ser muito otimista mesmo porque olha que tempestade vem aí. Eu já vim prevenido.

A Vaca ao vê-lo abrindo o guarda-chuva, concordou: - É, estou vendo.

O Burro contou-lhe: - Ouvi no noticiário, antes de sair de casa, que vai ser uma tragédia: raios, trovão, chuva de granizo, vai cair árvore, destelhar as casas. Você não está com medo?

Calmamente ela respondeu: - Não!

Sem acreditar, ele insistiu: - Nem um pouquinho? Olha que vai ser raio e mais raio!

Dona Vaca já meio nervosa falou: - Não tá sentindo o vento forte na sua cara?

Belarmino observou o ar em movimento e concordou: - Tô.

- Então, é o vento do norte. Explicou a Vaca.

Ele lambeu o dedo e o colocou pra cima e realmente confirmou: - Você tem razão, é vento do norte.

- Quando é vento do norte ele carrega as nuvens pro outro lado. Tchau nuvenzinha... Acenou a Vaca, dando adeus para a nuvem.

O Burro abismado olhou para cima: - E não é que a nuvem está indo embora mesmo!

- Eu não disse? Respondeu a vaca e depois ficou olhando com o binóculo para o horizonte.

Belarmino curioso: - Você tá esperando o quê?

Dona Vaca irritada: - Esta placa indica que aqui é um ponto do quê?

- De trem. O Burro respondeu. Então, a Vaca colocou o amigo para pensar: - Então, o que você acha que eu estou fazendo aqui, com essa mala?

Muito animado, Belarmino respondeu: - Já sei, já sei, não fale, eu sou inteligente e vou acertar. Você está esperando o trem!

A Vaca falou ironizando: - Nossa como você é inteligente! Palmas para o Belarmino!

Esfuziante o Burro falou: - Eu acertei em cheio! Eu sei que sou muito esperto. Você não sabe que foi um membro da minha família que levou um casal de Nazaré para Belém onde nasceu uma criança famosa em todo o mundo? Mas... me diga que trem é esse?

- É o trem da alegria. A Vaca explicou.

Com muita curiosidade, Belarmino perguntou: - Trem da alegria? E vai te levar pra onde?

- Para o reino da Felicidade. Respondeu.

E o Burro continuou o interrogatório: - E esse lugar é bom?

A Vaca pontuou: - Belarmino, você precisa estar mais atento! Preste atenção no nome: Reino da Felicidade. Isso lhe diz alguma coisa?

- Lógico né, Filomena. Felicidade é felicidade. Disse o Burro, na maior simplicidade.

A Vaca pede-lhe um favor: - Isso mesmo. Olha só, dá para você ficar vigiando quando o trem estiver chegando, que eu vou comprar um pouco de capim para eu levar? Serão muitas horas de viagem, vou ficar faminta. Aqui está o binóculo. Fica aí firme, heim! Vigilante!

O Burro concordou: - Sim, sim, firme, vigilante.

Assim que a Vaca saiu o Burro falou consigo mesmo: - Belarmino, Belarmino fique firme, esperando o Trem da Alegria.

Ele sentou no banco, tombou a cabeça de sono e bocejou: - Firme Burro, não vai dormir. Ei pessoal, não deixa eu dormir não, tá? Olha, se eu dormir vocês me chamem assim: Burro, burro. Aí eu vou acordar.

O Burro falou para algumas crianças que estavam brincando perto da estação do trem.

Logo em seguida, ele começou a sentir a cabeça pesada e por mais que tentasse resistir ao sono tombou a cabeça de novo e começou a roncar.

Ao longe o Trem da Alegria, com quatro vagões, vinha muito animado cantando: - “Piui, Piui, Piui bota a mão no meu ombro. Piui, Piui, Piui não deixa o trem descarrilar. Eu sou a máquina e vocês são os vagões e os passageiros são os nossos corações”.

Mesmo com tanta cantoria, o Burro não acordou e continuou a roncar ainda mais alto.

O Vagão 1 anunciou: – Senhores passageiros para o Reino da Felicidade queiram embarcar. Piuiiiii.

Todos os Vagões falaram: - Piuiiiiii!

O Burro roncou mais alto.

O Vagão 2 avisou: - Já que ninguém quer ir, vamos embora.

- Piuiiiii! O trem da Alegria partiu bem devagarzinho cantando: - “Piuiii, piuiii, bota a mão no meu ombro...”

A Vaca chegou correndo e gritou: - Esperem. Esperem por mim!

O Vagão 1 foi o primeiro que a viu: - Uma passageira! Vamos parar o trem.

Enquanto o trem parava e dava marcha-a-ré, a Vaca gritou: - Belarmino, acorde!

O Burro acordou assustado: - Ah, ui, o que aconteceu? A tempestade chegou?

Os Vagões falaram: - O trem chegou! Piuiiii.

O Vagão 2 completou: - O trem chegou, ninguém entrou e o trem se pirulitou.

Mas Vaca explicou: - Eu vou embarcar, eu vou embarcar. Ainda bem que cheguei a tempo. Se dependesse desse burro eu perderia o trem.

O Burro foi logo se justificando: - Foi culpa daquelas crianças ali que prometeram que me chamariam.

Em seguida falou bravo querendo brigar com as crianças que já olhavam assustadas: - Que coisa feia... que falta de atenção. Era para ficar vigilante, não era? Seus danadinhos, mentirosos.

O Vagão 3 que não gosta de brigas pediu: - Ei, Belarmino, não precisa brigar com eles.

A Vaca completa: - É, eu é que tenho motivos para ficar muito, mas muito brava, não briguei com você.

O Burro reconheceu: - Realmente você não brigou, mas eu não sou bobo de ninguém e vou acabar com essas crianças danadinhas.

Quando o Burro já estava indo em direção às crianças, fazendo gestos de luta de karatê, o Vagão 4 falou: - Calma amigo, estamos realmente no tempo de ver como estamos levando a vida.

O Burro, desdenhando, começou a cantar: - “Deixa a vida me levar, vida leva eu...”

O Vagão 2 o repreendeu: - Nada disso, você é que precisa ver se está agindo certo: respeitando as pessoas, ajudando, não brigando, repartindo o que tem...

A Vaca explicou: - É por isso mesmo que eu estou indo para o Reino da Felicidade. Ouvi dizer que lá só praticam o bem, nada de violência, nada de maldades.

O Trem afirmou: - Lá é assim mesmo!

Belarmino perguntou: - O quê? Existe um lugar sem violência, sem maldade?

- Claro! O Trem respondeu.

A Vaca fez um convite ao amigo: - Vem Belarmino, vamos morar lá.

O Burro refletiu: - Você está pronta, Filomena, você merece. Eu prometo que vou melhorar, e um dia estarei aqui, feito você esperando, vigilante, pelo Trem da Alegria.

O Vagão 1 apitou: - Piuiiiii. Está na hora.

Todos os Vagões apitaram: - Piuiiiiiii. Vamos embora!

A Vaca entrou no trem e falou: - Não desista de ser feliz, Belarmino.

Belarmino prometeu: - Um dia vou me encontrar com você, Filomena. Estarei aqui, firme, vigilante, esperando o trem chegar.

Todos deram tchau e o Trem da Alegria partiu rumo ao Reino da Felicidade!