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Os dons de cada um

Jo 20,19-23

Autoras: Cecília Pellegrini e Vera Pastrello


Uma repórter e um cameraman chegam no portão da Aldeia dos Talentos.

Sem perder tempo a repórter emposta a voz e começa a trabalhar: - Como já tínhamos anunciado aos nossos telespectadores, estamos avistando o lugarejo chamado Aldeia dos Talentos. Nossos enviados disseram que neste lugar todas as pessoas possuem dons especiais.

Eles andam alguns metros e ela ordena: - Cameron filma o vilarejo, as pessoas. Sem perder tempo, o cameraman filma todo o espaço, virando de um lado para o outro. Logo em seguida volta a filmar a repórter, que continua sua fala: - Bem vamos nos aproximar. Será que aqui tem festa todos os dias? Acho que meu lugar é aqui, pois sou uma pessoa especial também.

Caminham em direção a um lindo alpendre cheio de flor. No lado direito havia uma pessoa sentada costurando e no lado esquerdo uma pessoa varrendo o chão.

A repórter falou: - Veja, Cameron, chegamos na Aldeia dos Talentos, mas que esquisito não tem ninguém para nos receber?

Cameron respondeu: - Veja lá Reporteca, tem aquele faxineiro e aquela mulher...

A profissional ficou irritada: - Eu já te disse que meu nome não é Reporteca, é Teca, repórter Teca, entendeu?

O colega de trabalho concordou: - Sim, Reporteca, quero dizer repórter Teca, ali tem um faxineiro.

Teca retrucou: - Me poupe Cameron, me poupe. Você acha que vim até aqui para encontrar um faxineiro? Se aqui é a aldeia dos talentos, eu quero ta-len-tos, entendeu bem, ta-len-tos e não um mané faxineiro.

O faxineiro escutou tudo, depois olhou os visitantes e ficou cabisbaixo.

Cameron ficou preocupado: - Tá, tá, mas fale baixo, ele pode ouvir.

A repórter não se importou: - Que ouça, que ouça. Quem pode, pode e quem não pode se sacode.

O cameraman sugeriu: - Mas vamos perguntar a ele onde estão as pessoas da aldeia.

Mas a Teca só estava preocupada com ela mesma: - Depois, depois, primeiro eu vou retocar a minha maquiagem.

E gritou: - Maquilinaaaa, ela se atrasou de novo!

Logo em seguida a maquiadora chegou correndo carregando uma mochila enorme.

Teca ordenou: - Capriche no batom para realçar a minha boca perfeita.

A Maquilina obedeceu e começou a maquiar imediatamente: - Sim, senhora.

Não demorou dois minutos e a repórter falou impaciente: - Já chega. Você ganha dinheiro na moleza, né queridinha, porque com esse rostinho de boneca aqui você não precisa fazer quase nada, não é mesmo?

- É sim, senhora. Maquilina concordou.

Teca retrucou: - Senhorita, senhorita. Cameron, pare de admirar este lugar, vamos, vamos, ao trabalho.

O cameraman justificou e logo em seguida ligou seu aparelho: - Que diferença da cidade grande, aqui é tudo tão calmo, tão simples...

A repórter focou na matéria: - Estamos aqui, na Aldeia dos Talentos, um lugar magnífico, distante 230 km da cidade, onde moram pessoas talentosíssimas. Corta, corta. Acho que o meu entusiasmo não está lá grande coisa. Também pudera, não tem ninguém aqui nesse fim de mundo.

O cameraman observou: - Como não tem ninguém, veja só aquelas pessoas trabalhando ali.

A Teca explicou: - Não era isso que eu pensava encontrar, mas vamos lá, né.

Ela dirige-se a mulher que estava costurando e falou: - Bom dia, somos da TV e viemos aqui porque nossos informantes disseram que aqui só vive pessoas possuidoras de dons especiais.

Dona Maria, a costureira concordou: - Seus informantes estavam certos, todos aqui possuem dons especiais.

A repórter falou dirigindo-se ao cameraman: - Como, se até agora só vimos faxineiro, costureira?

Ele pediu: - Calma, Reporteca.

Imediatamente a profissional corrigiu: - Teca, Cameron, repórter Teca.

Dona Maria continuou: - Ser costureira, faxineiro, ou qualquer outra profissão é utilizar os dons especiais recebidos. Aqui cada um usa seu dom especial para trabalhar, um ajuda o outro, assim nada falta na aldeia.

Decepcionada Teca disse: - Não estou entendendo nada. Pelo visto isso aqui é uma aldeia como qualquer outra.

A costureira concordou: - Sim, é um lugar como outro qualquer, com a diferença que agradecemos pelos dons recebidos e logo que terminamos as tarefas do dia nos reunimos aqui e então...

Começou a tocar uma música linda e no pátio apareceu bailarina, ginasta, pintora, malabarista... A costureira tirou seu avental, pegou um violão e se juntou aos colegas.

A repórter fez gestos para o cameraman filmar tudo.

Eles terminaram a apresentação e cumprimentaram os visitantes: - Bom dia, sejam bem-vindos!

O pessoal da TV respondeu: - Bom dia!

Teca disse: - Ufa, até que enfim! Pensei que nesta aldeia não morasse mais ninguém. Eu gostaria de fazer uma reportagem para o incrível programa de variedades Fatos e Boatos, da Rede Povo, que, aliás, eu sou a mais bem paga, a mais talentosa, a mais...

A dona Maria começou a falar: - Sim, sim, mas...

Ela foi interrompida pela repórter: - Ué, você não é a costureira?

Com carinho a costureira respondeu: - Sim, este é um dos meus talentos, mas também sou música e cantora.

Teca pediu: - Hum! Chame logo um dos responsáveis sim!

A dona Maria disse: - Vou chamar nosso grande Mestre.

O cameramen sussurrou: - Reporteeeeeca, aqui tem um grande Mestre!

Maquilina falou: - Lógico! Num lugar como esse tem que ter um grande Mestre!

A repórter corrigiu: - Eu estou cansada de dizer que é repórter Teca, Teca. Mas, deixa pra lá. Vamos, vamos até esse grande Mestre pedir logo essa autorização. Meu tempo é precioso.

Os moradores da aldeia chamaram: - Mestre, Mestre!

O faxineiro largou a vassoura e o saco de lixo e foi até eles.

O ginasta falou: - Querido Mestre, estes visitantes querem fazer uma reportagem sobre os nossos talentos e gostaríamos de perguntar o que o senhor acha disso?

O faxineiro concordou: - Mas é claro que vocês podem participar da reportagem. Cada vez que vocês falam sobre os talentos que têm, estarão sempre reforçando o amor e a paz em que vivem.

Teca falou baixinho: - Cameron, Cameron, o faxineiro é o Grande Mestre. Não acredito. Estou espantada com a revelação!

Maquelina disse enquanto retocava a maquiagem da repórter: É, parece que as aparências enganam mesmo!

Cameron sugeriu: - Vamos começar?

Mas Teca interveio: - Espera um pouco. Geeennnnte, aquele ali é o Grande Mestre? Um faxineiro? Vocês com esses dons maravilhosos, lindos, que técnica, que performance. Filmando Cameron, filme tudo: você querida, faça aquele “pliê, demilonguê”.

Colocaram uma música clássica que a bailarina deu um lindo show de técnica e leveza.

A repórter pediu: - Você fofinha, dê aquela estrela perfeita!

Os tambores rufaram e a ginasta fez movimentos acrobáticos, com equilíbrio, força e rapidez.

Teca estava ansiosa para ver a apresentação de todos. Foram pessoas cantando, tocando, execução com malabares... Ela também viu uma exposição linda de obras de arte.

A repórter ficou encantada: - E agora vamos dar um close nessa pintura incrível! Maravilha, Maravilha. Isso sim é que são dons!

Cameron concluiu: - Reporteca quero dizer repórter Teca, agora é só editarmos com as imagens que filmei do local e ficará uma matéria excelente. Pena que depois teremos de ir embora.

Maquilina estava triste: - Mas já? Se eu pudesse eu ficaria aqui para sempre!

Teca ficou indignada: - Não acredito Maquilina. Se bem que eles são pessoas inteligentes, mas eu não entendo como podem ter um líder assim, tão, tão...

Os moradores da Aldeia completaram: - Amigo!

E cada qual falou algo: - Tão capaz! Tão generoso! Tão simples!

A repórter ficou sem graça: - Vocês ouviram, é?

A bailarina respondeu: - Ouvimos e queremos dizer que você está totalmente enganada. Foi o nosso Mestre quem nos ajudou a desenvolver nossos dons.

O Cameron perguntou: - A dançar, pintar, tocar?

A pintora pegou o faxineiro pela mão e o levou até o centro do pátio.

A ginasta continuou: - Isso mesmo, ele nos ensinou que através do amor, do entendimento, da sabedoria e da simplicidade, nós podemos despertar os dons que estão dentro de nós.

A costureira também falou: - E nós somos muito gratos pelos dons que recebemos na nossa vida.

O malabarista completou: - E assim trabalharmos para levar paz e alegria às pessoas que estão ao nosso redor.

O faxineiro pegou na mão da Teca e disse: - Filha, devemos ser humildes e agradecer pelos dons recebidos. Veja só você, com o dom da palavra, pode levar mensagens de bondade e fraternidade às pessoas de diversos lugares.

Comovida ela perguntou: - O senhor acha, é?

A maquiadora também quis saber: - E eu, mestre, o senhor acha que eu tenho algum dom?

Cameron também: - E eu?

Os moradores da aldeia responderam em uníssono: - Todos nós temos dons!

O Mestre continuou: - Existe uma energia dentro de nós que, se nós quisermos, ela faz florescer todos os dons recebidos.

O ginasta perguntou: - Dons que são sinais de Deus, não é Mestre?

Ele respondeu: - Isso mesmo. E você, que está lendo essa historinha, está deixando brotar os dons que recebeu? O dom de ajudar, de perdoar, o dom de escrever, de ouvir as pessoas. E o principal de todos os dons que recebemos...

- O dom de amar! Tchau!

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