Ser Alguém ou Ninguém
- pelegrincecilia
- 3 de out. de 2021
- 5 min de leitura
Lc 17,5-10
Autora: Cecília Pellegrini - Contribuição: Pe. Luiz Carlos Magalhães
A historinha de hoje se passa num país bem longe do Brasil, no continente Asiático, onde a cultura era bem diferente da nossa.
Booooooooommmmmm! Um gongo soou bem forte para anunciar a entrada da mestra Felícia, que todas as manhãs vinha ao jardim para conversar com as pessoas do seu povo.
Naquele dia ela falou: - Hoje é um dia muito importante aqui no nosso país. É o dia em que cortarei um pedaço da minha trança e entregarei às pessoas que têm fé. Fé no pensar, fé no jeito de fazer as coisas, fé em Deus, fé na vida. Que entrem os candidatos!
O gongo soou e dois moradores entraram. Um se chamava Ninguém, que entrou apressado, nervoso e o outro se chamava Alguém, que entrou com segurança e muita calma.
Felícia curvou seu corpo para frente, num gesto característico para o cumprimento. Ninguém não respondeu, apenas Alguém a cumprimentou, também curvando seu corpo para a frente.
Felícia perguntou: - Como vocês se chamam?
Alguém, com muita simpatia respondeu: - Eu me chamo Alguém e quero agradecer a oportunidade que estou tendo.
De maneira ríspida o outro se apresentou: - Meu nome é Ninguém.
- Sejam bem-vindos! Fico feliz em conhecer as pessoas que querem um pedaço da minha trança. Falou a mestra.
Alguém retribuiu a acolhida: - É uma honra receber um pedaço da sua trança querida Felícia, não é Ninguém?
Com desdém Ninguém revelou: - Eu quero deixar claro que só estou aqui porque meus pais me obrigaram, disseram que a tradição é importante. E continuou sua explanação, falando apressadamente: - Eu estou com muitos problemas, aliás, eu sou um problema enorme, nada dá certo comigo. É claro que eu não tenho chances de ganhar nada, nem mesmo um pedaço da sua trança.
Com muito carinho Felícia pediu: - Calma, respire fundo!
Ninguém não deu ouvido ao pedido e continuou respirando de qualquer jeito.
Mas a mestra insistiu: - Nossa respiração é muito importante e não podemos respirar de qualquer jeito. Respire assim: - Cheire a florzinha e apague a velinha.
Após exercitarem várias vezes, ela perguntou: - Está mais calmo?
E surpreendentemente Ninguém respondeu: - Sim. Respirar assim realmente me deixou mais calmo.
Ela perguntou: - Você não quer ganhar um pedaço da minha trança?
Ninguém afirmou: - Quero!
- Então é preciso acreditar. A mestra orientou.
Ele não entendeu: - Acreditar?
Desta vez foi Alguém que respondeu: - Sim, acreditar que você consegue, acreditar que é possível você ganhar.
Felícia ficou muito feliz com a perfeita explicação: - Muito bem Alguém, você explicou direitinho. Agora vamos à tarefa que vocês deverão fazer para conseguir o pedaço da minha trança. Qual é o sonho de vocês nesse momento?
Alguém contou: - Eu quero passar de ano.
- E você Ninguém? Ela perguntou.
Mas a resposta demorou a ser revelada: - Ah... Sei lá, pra mim tanto faz. Ihhhhh, mas eu também tenho que querer isso de passar na escola né, senão... Tô perigando repetir o ano na escola.
A mestra concluiu: - Então os dois querem passar de ano na escola. Muito bem, então está lançada a tarefa.
Nesse exato momento um Relógio e uma Vela entram no jardim e falam ao mesmo tempo, mas cada um num ritmo diferente: o Relógio bem apressado e a Vela mais calma: - Chegamos para ajudar!
Felícia ficou contente com a possibilidade deles ajudarem: - Que bom! Uma Vela e um Relógio, quem vocês escolhem?
Ninguém correu para ser o primeiro a escolher: - Claro que eu quero o Relógio! Vem, vem logo!
Ele puxou o Relógio e saíram apressadamente.
Com muita tranquilidade Alguém falou: - Fico feliz com a Vela, uma luz em meu caminho. Obrigado!
E os dois saíram de mãos dadas conversando.
E você, amiguinho ou amiguinha que está lendo essa historinha, o que fará para passar de ano? Que tal perguntar para um adulto que cuida de você, o que ele poderia dizer para que você consiga atingir esse objetivo?
Depois que vários meses se passaram ouviu-se o som do Gongo.
Todos estavam no jardim com a mestra, aguardando a chegada dos dois candidatos.
Alguém e Vela entram felizes, trazendo um boletim grande, onde as notas estão em azul significando que estão acima da média.
Alguém revelou alegre: - Eu passei! Eu passei! E deu um forte abraço na Felícia e na Vela.
O gongo soou novamente.
Ninguém e o Relógio entraram desanimados, trazendo um boletim grande, onde as notas estavam em vermelho significando que foram abaixo da média.
Ninguém contou: - Eu não consegui, nem sei por que eu tentei... Eu já sabia que isso iria acontecer. Mas a culpa foi do Relógio que ficou nesse tic-tac infernal, nem me acordar ele acordou.
O Relógio falou indignado: - Espera lá, mas quem tinha que colocar o alarme era você. A tarefa era sua.
Eles começaram a discutir: - A culpa foi sua, você que atrapalhou, etc.
A Felícia interveio: - Calma, calma. Vamos ouvir como cada um viveu nesses meses até aqui. Fale você primeiro Alguém, afinal você conseguiu passar de ano.
Ele relatou: - Bem, saímos daqui muito animados e acreditando realmente que iríamos conseguir.
A Vela continuou: - Alguém estudou muito, também procurou viver de forma saudável: dormiu cedo, não ficou no celular, internet, videogame muito tempo, equilibrou bem as horas do dia. Ah, se alimentou direitinho: comeu frutas, legumes... E rezou, rezou com fé.
Alguém confirmou: - Sim, eu sei que cada um de nós tem um anjo da guarda, eu nunca estou sozinho.
Felícia reforçou: - Isso é muito importante, acreditar que Deus nos ama e está conosco o tempo todo. E na escola, como foi?
- Na escola eu prestei bastante atenção na explicação dos professores, fiz todas as lições, revisei a matéria em casa... A Vela estava sempre comigo, clareando não só a minha vida, mas a minha mente, aquecendo o meu coração! Alguém contou e ao final abraçou a Vela em sinal de gratidão.
A mestra cortou um pedaço da enorme trança do seu cabeço e deu para o Alguém: - Parabéns! Aqui está um pedaço da minha trança.
Após ouvir atentamente todo relato, muito arrependido Ninguém contou como viveu: - Poxa, eu não fiz nada disso. Conforme o Relógio dizia que o tempo passou e que era hora de estudar, eu continuei no jogo do videogame, na escola eu queria mesmo era a hora do recreio, ao invés de prestar atenção na professora eu ficava olhando para o relógio e vendo a hora pra ir embora, ou ficava pensando que eu tinha de falar com o meu amigo sobre o futebol. Eu não me dediquei e muito menos rezei.
- Viu que a culpa não foi minha? Afirmou o Relógio.
Ninguém concordou: - É que é sempre mais fácil colocar a culpa nos outros. Me desculpe.
Após os relatos a mestra ensinou: - Viram a diferença? Se você acredita que vai conseguir, se você se esforça, até se sacrifica, com certeza você merecerá a recompensa. Entendeu a mensagem de hoje Ninguém?
Ele respondeu com muita humildade: - Claro que entendi, essa é a hora, eu posso mudar a minha história. Eu queria fazer um pedido a vocês, posso?
- Claro! Todos falaram emocionados com o desejo dele.
E fez um pedido muito coerente: - Eu queria mudar o meu nome para Amém!
Felícia concordou: - Amém significa verdade, certeza. Excelente escolha! Então chega de ficar dizendo que não é ninguém. Use essa fé que eu sei que você tem.
E a partir daquele dia Amém viveu feliz para sempre! Tchau amiguinhos !
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