Viva! A Cigarra escolheu a vida!
- pelegrincecilia
- 9 de nov. de 2020
- 6 min de leitura
Campanha da Fraternidade de 2008 – Fraternidade e defesa da vida
(texto inspirado no conto popular da Cigarra e a Formiga)
Autoras: Cecília e Rafaella Pellegrini
Cenário: Ao lado esquerdo do palco, um painel com o desenho de um formigueiro e na frente do painel haverá 1 mesinha e 2 banquinhos. Ao lado direito uma árvore e, descansando sob ela, uma Cigarra tocando o seu violãozinho. Ao seu lado uma garrafa de bebidas e maços de cigarros.
Personagens: Cigarra Rita e Formigas: Filha Formiguelina, Mãe Formiguilda, Tia Formiquéti.
[Música. Duas formigas entram em cena e passam carregando folhas. A Cigarra olha, ri e continua em suas ações de prazer: toca, fuma, bebe bebida alcoólica]
FORMIGA FILHA: - Mamãe, a dona cigarra não precisa trabalhar como nós?
FORMIGA MÃE: - Lógico que precisa filhinha, o inverno já está chegando e ela também precisará de alimentos para enfrentar as baixas temperaturas.
CIGARRA: - Vocês estão falando de mim, é?
FORMIGA MÃE: - Oi dona cigarra, a Formiguelina está curiosa por vê-la há tantos dias assim...
CIGARRA [brava]: - Assim, assim, como?
FORMIGA MÃE: - Assim, tão, tão... tranquila.
FORMIGA FILHA: - Tranquila não, mamãe, eu acho a dona Cigarra preguiçosa mesmo.
CIGARRA: - Formiguelina, quero dizer, “Pirralhelina”, porque você é uma pirralha muito intrometida. Fique sabendo que eu adoro cantar [começa a cantar desafinado]: Atirei o pau na formiga, e a formiga já morreu. Dona lagartixa admirou-se do berro que a formiga deu!
FORMIGA FILHA [chorando]: - Mãeeeeeeeeeeee!!!!!!
CIGARRA: - Viu o que dá mexer comigo?
FORMIGA MÃE: - Mas, dona Cigarra Rita...
CIGARRA: - Chame-me de Cigarrita, que é o meu apelido.
FORMIGA-MÃE: - Cigarrita, cantando assim, nem parece que você valoriza e respeita a vida que recebemos da Mãe Natureza. A vida é o bem mais precioso que temos.
CIGARRA: - Depois do cigarro e do álcool [mostrando a garrafa], queridinha.
AS DUAS FORMIGAS [falam indignadas]: - O quê?
CIGARRA: - O quê, o quê? Vai dizer que vocês não acham mais gostoso fumar e beber do que trabalhar?
AS DUAS FORMIGAS: - Lógico que não!
FORMIGA MÃE: - Esses prazeres momentâneos só estragam o nosso corpo e causam dependência.
CIGARRA: - Nossa, como você é careta, antiquada. Estamos no século XXI, fofinha.
FORMIGA TIA [entra em cena carregando uma folha]: - Formiguilda, venha cá. Você está conversando com essa Cigarra? Você soube o que ela fez?
FORMIGA MÃE: - Formiquéti, eu sei o que ela não faz, que é trabalhar.
FORMIGA TIA: - Pois fique sabendo que ela aconselhou a leoa Leonilda a tirar o filhotinho que ela está esperando.
FROMIGA MÃE [admirada]: - Não diga!
CIGARRA: - Mas vocês nem sabem falar dos outros, em tom de voz baixo, não é? Eu ouvi tudo!
FORMIGA TIA: - O que eu contei foi a pura verdade.
FORMIGA MÃE: - É verdade, Cigarrita, que você aconselhou a Leoa Leonilda a tirar o filhote que ela está esperando?
FORMIGA FILHA: - Como assim mamãe, tirar?
FORMIGA TIA: - É abortar o filhotinho, o mesmo que matar.
[Música trágica – as três formigas levantam os braços e fingem apunhalar a própria barriga]
FORMIGA FILHA [dá um grito de desespero]: - Coitadinho do filhotinho!
CIGARRA: - Tá esperando o filhote e não o quer, tem mais é que abortar mesmo.
TODOS: - Oh!
FORMIGA TIA: - Mas nós não temos o direito de tirar a vida dada pela nossa Mãe Natureza. Sabe de uma coisa, vou continuar o meu trabalho porque essa daí não tem jeito. Ela está longe de entender o que é preservar a vida.
CIGARRA: - Vai, vai trabalhar sua mexeriqueira. Ninguém te chamou na conversa mesmo, intrometida de uma figa.
FORMIGA FILHA: - Tia Formiqueti, eu vou com você porque eu estou com medo. [Formigas tia e filha entrarão no formigueiro]
FORMIGA TIA: - Vamos, meu amorzinho, não dê ouvidos a essa Cigarrita.
FORMIGA MÃE: - Está vendo só Cigarra, o que acontece com quem escolhe os caminhos que conduzem à morte?
CIGARRA: - Nossa Formiguilda! Como você é trágica. Precisa falar assim: caminho da morte? Só porque eu sei resolver as coisas facilmente? Vejam só [falando com a plateia] como a vida é fácil: tá precisando de alguma coisa? Pra que trabalhar? Basta roubar. O seu pai, sua sogra, sua mãe, estão velhos ou doentes? É só dar matox. Eles estrebucham rapidinho. [A formiga mãe fica estarrecida.e a cigarra continua] Tá de mau humor, desolado? Basta beber, fumar um baseado até esquecer. Tudo assim, fácil, rápido! [gestos]
FORMIGA MÃE: - Mas isso tudo é a cultura da morte!
CIGARRA: - Lá vem você com essa história de cultura da morte.
FORMIGA MÃE: - É isso mesmo, é a cultura sem a Mãe Natureza, sem o bem, a paz, a união e a partilha que Ela nos ensinou.
[SOM – RAJADA DE VENTO. As duas mostram que estão com muito frio]
FORMIGA MÃE: - Nossa, que frio! Até mais Cigarrita, preciso ir porque o inverno será rigoroso [entra no formigueiro]
MÚSICA
[A cigarra tenta se proteger do frio. Percebe que não tem nada para comer, ao procurar comida na sua sacola e só encontrará cigarro e coisas fúteis (espelho, pente, bebida alcóolica)]
FORMIGA FILHA [sairá do formigueiro, com roupa de inverno e declamará]: - O inverno chegou e tudo mudou. A comida é escassa e o frio uma ameaça. A natureza se revoltou e o mundo se transformou. Enchentes, nevascas, uma série de desgraças.
[A cigarra começa a bater os dentes, exageradamente, de tanto frio]
FORMIGA FILHA: - Nossa, dona Cigarrita!! O que a senhora está fazendo aqui fora nesse frio? Assim ficará congelada!
CIGARRA: - Eu não tenho para onde ir, passei o ano todo cantando e agora não tenho alimentos nem abrigo.
FORMIGA FILHA: - Aguente firme dona Cigarrita, vou chamar a minha mãe e vamos ajudá-la. [Anda em direção ao formigueiro]
CIGARRA: - Nossa, depois de tudo o que eu falei para aquela formiguinha e ela ainda vai me ajudar... [continua a bater os dentes]
FORMIGA FILHA [entra no formigueiro e encontra a sua mãe tomando chá com a formiga tia]
FORMIGA FILHA: - Mamãe, mamãeeeeeee... [corre para os braços da mãe]
FORMIGA MÃE: - O que foi filhinha? Você está gelada, você foi lá fora né? Não lhe expliquei que lá fora está muito frio e que você pode até morrer congelada?
FORMIGA FILHA: - Falou mamãe, só que estava tão branquinho, que tive que anunciar a chegada do inverno para todos os bichinhos!!
FORMIGA TIA: - Essas crianças... Sempre inventando moda...
FORMIGA FILHA: - Mamãe, a senhora tem de vir depressa comigo, temos que ajudar a dona Cigarrita, ela está com muito frio e fome, e não tem onde ficar. Ela vai acabar morrendo, mamãe!
FORMIGA TIA: - Pois é bem feito, ninguém mandou ela ficar cantando o ano todo em vez de juntar comida e procurar abrigo. Ela até que merece morrer de frio e fome.
FORMIGA MÃE: - O que é isso, querida irmã? Como pode falar assim? Temos que ir lá fora ajudá-la.
FORMIGA TIA: - Pois eu não irei. Eu avisei para aquela cigarra que ela devia trabalhar, ela está tendo o que merece! Eu não quero repartir nada com ela.
FORMIGAS MÃE e FILHA: - Você está sendo egoísta!
FORMIGA MÃE: - O egoísmo desfigura a obra da Mãe Natureza causando morte e destruição.
FORMIGA FILHA: - Aí titia, a senhora se esqueceu daquela vez em que você e o titio foram passear em férias e deixou o Formiguito para a mamãe cuidar? Minha mãe desmarcou todos os planos só para lhe fazer esse favor, sabia? Teve também aquela outra vez que acabou a comida na sua casa e nós repartimos toda a nossa comida.
FORMIGA TIA: - É... lembro... Vocês sempre me ajudaram quando eu precisei...
FORMIGA MAE: - Pois é, minha irmã. Chegou a hora de você ajudar também aqueles que precisam, sem condená-los, mas mostrar-lhes o caminho do bem, para que eles possam se arrepender do mal que já fizeram.
FORMIGA TIA: - Pois então vamos logo salvar a dona Cigarrita!
[As três formigas vão até a Cigarrita levando ajuda]
FORMIGA FILHA: - Dona Cigarrita, dona Cigarrita...viemos lhe ajudar!
[As formigas cobrem a cigarra com um cobertor e lhe dão comida]
CIGARRA: - Muito obrigada, formigas! Estou tão envergonhada de todo o mal que fiz aos outros e a mim mesma. Queria tanto poder voltar atrás e consertar tudo isso!
FORMIGA MAE: - Voltar no tempo não é possível, mas o primeiro passo para consertar o mal já feito é refletir e se arrepender.
FORMIGA TIA: - E permanecer no caminho do bem, valorizando tudo o que a Mãe Natureza nos deu!
CIGARRA: - Pois é isso que vou fazer de agora em diante! Vocês me ensinaram que o amor é mais forte que a morte.
FORMIGA TIA: - Minhas queridas [falando com a formiga mãe e a filha], vocês também me ensinaram hoje a olhar para o outro, a cultivar o afeto e a solidariedade [todos se abraçam]
CIGARRA: - Entendi a lição: é preciso sempre escolher os caminhos que conduzem à vida. “É o amor que dá a vida” (Bento XVI)
FORMIGAS: - Viva! A Cigarra escolheu a vida!
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